Tenho reparado que se torna difícil encontrar um vinho a baixo preço (<5€) que consiga proporcionar um nível de prazer interessante e ao mesmo tempo mostre algo diferente. Apesar disto, noto que os vinhos que circulam pelas gamas baixas revelam mais qualidade. É bom para o consumidor. O risco de apanhar uma bela zurrapa é menor. Ainda bem.
O que cansa é olhar para eles e ver que comportam-se, quase sempre, da mesma maneira. Possuem os mesmo argumentos, oferecem os mesmos sabores, os mesmos cheiros. Só o rótulo os distinguem. Bem vistas as coisas, também nas gamas mais ricas isto acontece. Só que aí a compreensão é menor e os erros não se perdoam com tanta facilidade.
Notícia, para mim, é apanhar uma pérola no meio deste mar homogéneo. Com 5€, cacei um vinho tinto alentejano curioso, bem conseguido, que conciliou facetas raras nesta gama. Boa escala de aromas, bom paladar, nunca caindo em monotonia. Não soltei um bocejo. Vem daqui.Aromas vegetais, terrosos e pequenas sensações florais prenderam a minha narina ao copo. Era fresco, alegre, quase primaveril. Curiosa, muito curiosa, a impressão a carvão (pensem no cheiro que se solta quando afiamos o lápis). Durante a sua estadia no recipiente, ganhou cheiros especiados que sugeriram canela. Estava misturada com o tabaco, com a baunilha, com uma leve sugestão a cacau amargo. A fruta? Silvestre, sem açúcar. Sedosa.
Os sabores eram sadios e vivos. Fui confrontado, mais uma vez, com um comportamento que combinou alegria com seriedade. O vegetal, a tosta e a fruta formavam um bloco bem conseguido. Apetecível, saboroso, com boa largura. Nunca se tornou chato, monocórdico. Pelo preço que paguei não posso pedir mais. Não posso. Nota Pessoal: 15
Post Scriptum: Nunca tinha provado este vinho. Olhei muito para ele. Sempre julguei que era igual aos outros. Como tal, não valia a pena prová-lo. Enganei-me. Parabéns à casa.
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