Os anos 80 estão na moda. Para aqueles em que o relógio biológico anda pelos 30 e 40 anos, foi a década onde tudo aconteceu. A música, as roupas, o VHS, as discotecas, os convívios na escola secundária, aos sábados à tarde, os ténis Sanjo. Um rol de lembranças que surgem por todo lado. Está na moda.
Vinhos dessa altura é que não estão na moda. Quem tem paciência para vasculhar garrafas com o carimbo dessa década? Quem se entretêm a perceber o que eles dizem?
Em jeito de provocação peguei num esquecido Frei João Reserva de 1980 (para o almoço do primeiro dia do ano).
Muita dificuldade para descrever, para interpretar os aromas. Eram registos diferentes. Difíceis de decifrar. A chave do código não estava ali à mão de semear. Passo a passo, tentei que a sequência fosse revelada. A cada pergunta, uma resposta. Muitas delas erradas. Novas tentativas, novos falhanços. Incrível a forma como esqueci as minhas primeiras lições. Tentei recordar os primeiros apontamentos que fiz sobre o vinho. Tinha sido na companhia dos tintos de 70 e de 80 (do Dão e da Bairrada) que comecei a beber vinho. Durante muito tempo, foram os meus únicos pontos de referência. Era por essas bandas que andava. Depois numa louca tentativa para modernizar-me, apanhei o comboio dos outros (bem mais rápido que o meu). Interessava, apenas, provar as novidades. Desliguei-me do passado. É, agora, uma efémera lembrança.Vinhos dessa altura é que não estão na moda. Quem tem paciência para vasculhar garrafas com o carimbo dessa década? Quem se entretêm a perceber o que eles dizem?
Em jeito de provocação peguei num esquecido Frei João Reserva de 1980 (para o almoço do primeiro dia do ano).
Urze e carqueja pareciam quer sair lá de dentro. Depois, cerrando os olhos, julguei sentir qualquer coisa parecida a cogumelos. Estariam debaixo de cedros. Terra? Passo à frente, passo a trás, andei em redor do copo para enxergar outras sensações. Muitas delas não tinham paralelismos. Depois como um amigo diz: "Esqueces que os vinhos são para beber, para serem desfrutados."
Os sabores, infelizmente, estavam débeis. Revelavam uma fragilidade meio desoladora. Foi tratado de forma respeitosa. Não puxei mais por ele.
Não atribuo Nota Pessoal, por assumida incompetência pessoal e reverência. Fica o registo de um momento que não esquecerei.
Comentários
Como será daqui a 28 anos? Quantos vinhos nos farão pensar na vida de forma diferente?
Um caloroso abraço
PS-Blogue? Posso saber o nome?
Eu devo dizer que gosto bastante dos nossos vinhos velhos, desde que estejam em condicoes. E ha muitos que o estao. Ja neste segundo milenio tive grandes prazeres (e nao surpresas) com vinhos nacionais do passado - Mouchao, CR&F, Solar das Francesas, Colares, Rotulo de Cortica (ACB), Rosado Fernandes Tinto Velho(este formidavel) e os tao esquecidos vinhos do Bucaco (alguns deles obras primas capazes de rivalizar com qualquer vinho do mundo). Posso mesmo dizer que fico triste com alguns testemunhos que ouco e leio em relacao a estes vinhos. Um amigo, dono de garrafeira, disse-me em jeito de conforto "...nao te chateias, nem tentes "converter" os outros...da-te por satisfeito de poderes tu apreciar estes vinhos e, hoje em dia, a precos muito favoraveis" - a febre do que velho e bom foi substituda pela febre do que e velho nao presta, em ambos os casos so vejo a febre, altissima, do `bora la generalizar :)
Para finalizar eu gostava de lancar aqui uma questao: os vinhos de Colares. Um patrimonio vinicola unico, caprichoso mas capaz de nectares unicos, porque nao investir nele? No que ele realmente e? Em vez de o tentar adaptar aos caprichos deste mercado...todas as grandes (em qualidade) regios do mundo adaptaram o mercado a elas (talvez com a ilusao de que foi o oposto). O tamanho, o volume de Colares e a sua originalidade assim o permitiam. Relembro a posicao (e as palavras em defesa de um patrimonio unico) do Eng. Luis Pato quando a "sua" bairrada decidiu tornar-se mais uma regiao do mundo vinicola.
Abracos
Pedro Guimaraes
p.s.- desculpem-me a falta de acentos. A razao e a mesma de sempre.....
Um abraço AJS
para mim puto que sou (nascido em 81 já depois deste frei joão) - ninguém nasce em 81... o problema é mais arranjar vinhos destes para provar. Confesso que tenho um fascínio enorme por estes vinhos antigos. Provei faz pouco tempo um Santar de 55 memorável e um Tinto Velho de 40 inacreditável. Mas gostava de arranjar uns Porta de Cavaleiros, uns Frei João e todas essas marcas míticas dos 80`s.
Alguém tem uma dica para bons sítios a procurar? Lá por casa não há nada. Boas provas!!!
Em Lisboa, conheco a Garrafeira de Campo de Ourique (pedindo ao propriatario, ele arranja de tudo e a bons precos), o restaurante Nova Aurora (Campo de Ourique) tinha uma garrafeira notavel para "velharias" e a precos muito convidativos - a titulo de exemplo (nao devia:) ) ACB Rotulo de Cortica 1967 10euros, um vinho magnifico.
Depois temos as chamadas garrafeiras "para turista" (nomeadamente na Av. Roma e no centro de Lisboa) mas os precos sao ridiculos....no entanto a escolha e muito boa.
Abracos
Pedro Guimaraes
No caso das garrafeiras para turista, além dos preços exagerados não sei até que ponto as condições de guarda são boas. Já vi tanta coisa boa a torrar nas montras e nos expositores.
Mas se calhar esta coisa dos vinhos velhos é um pouco isso também: uma aventura...
Mas olhando friamente, não é assim tão mau. É sinal de que o consumidor tem ao seu dispor um número quase infinito de propostas.
No entanto gostaria que daqui a 28 anos estivéssemos a falar de alguns vinhos da "nova geração".
Pelo menos o betão ainda não chegou a Colares...
Abraço.