No início, logo que meti a narina dentro do copo cheguei a temer que, lá do interior, surgisse apenas a maldita fruta. Receei que fosse atacado pelo enjoo e enfastiasse a refeição (um risoto de espargos que preparou a vinda de um borreguinho assado no forno, com pouco tempero). Não seria a primeira vez que largaria um vinho, puxando a água para a minha beira.
Apesar de ter mantido a sua matriz frutada, ao longo da minha noite, foram irrompendo a bem do meu nariz várias sensações aromáticas de semblante floral. Iam puxando cá para fora uma pequena quantidade de bálsamos que ajudaram a refrescar o vinho, aliviando o hálito, tornando-o mais leve e sadio.
Os ponteiros do relógio foram essenciais no ajuste dos aromas (e dos sabores). Tornaram-se num amigo, num grande amigo. Dele e meu. Carvão e gotas de tinta da China acercavam-se, agora, tentando erguer mais uma cerca em volta da fruta. Insuficiente para barrá-la convenientemente.O gosto era mentolado, frutado, com uma sensação final a baunilha. A estrutura, o esqueleto era mediano, com capacidade muscular suficiente. Nota Pessoal: 14,5
À medida que lançava os meus apontamentos na folha, encalhei num fatídico pensamento: "Qualidade é visível, mas não sai do tradicional intervalo compreendido entre 14 e 15,5. Por mais que prove, não saio daqui."
A maior parte dos vinhos, que andam por aí, apresentam poucas diferenças entre eles. 0,5 para cima ou 0,5 para baixo, no essencial, querem dizer a mesma coisa.
O Grou 2 Reserva 2005 é um tinto alentejano com interesse, mas longe de proporcionar uma correria para o apanhar. Por 10€, parece-me que existem melhores opções.
Comentários
Aliás, a sensação de que andamos a gastar mal o nosso dinheiro é cada vez maior. Não porque os vinhos estejam maus, mas porque são sistematicamente iguais, muito parecidos entre eles. Um tipo, ao fim de várias investidas, começa a bocejar de tédio.
Para os vendedores "este ou aquele" são sempre os melhores, depois surgem "outros" e esses sim são o máximo. No fim, cheiram e sabem quase tudo ao mesmo.
Um ab.
Nuno
pfarromba@hotmail.com
De resto estamos, como referi, um vinho com qualidade. Isso é inegável.