Parecia que tinha entrado num laboratório químico. Era pujante o odor a carvão, a alcatrão. Fortes. A sensação preta (a cor do rótulo também ajudou) manteve-se durante muito tempo. Talvez em demasia. Saltou muita azeitona preta. Parecia ter sido embebida em tinta da China. Era preciso muito peito e coragem para enfiar o nariz lá dentro. Mesmo com o copo ao longe sentiam-se os cheiros químicos. Que raios, só extracção? Dava a ideia que tudo tinha sido levado ao exagero.
Foram precisos largos minutos para que mais alguma coisa diferente surgisse no horizonte. Especiaria, chocolate preto bem amargo, umas quantas amoras, começaram a dar sinais. Sempre numa toada forte e longe de ser delicada. Terminou com tosta, com tabaco, com muito fumo.
Acreditem que estive (sempre) à espera que largasse algo mais suave, um pouco mais doce. Nada. Sempre preto, sempre potente, sempre extraído.Os sabores, para não destoarem, eram pretos, queimados, químicos e amargos. Tive que o colocar de lado e escolher outro para acompanhar o resto do jantar. Não dava. Aquilo assustava qualquer um. Regressei a ele mais tarde. Apesar de mais manso, mais equilibrado, não largou o estilo.
Um tinto australiano (que vem selado com aquelas rolhas de rosca) que tinha comprado algum tempo. Custou-me sensivelmente 15€ num hipermercado.
Fala-se por todos os lados que os vinhos do Novo Mundo se podem beber sozinhos, sem necessitar de comida por perto. Tive azar com este. Nota Pessoal: 14
Post Scriptum: A nota atribuída, por mim, reflecte apenas o meu (quase) total desconhecimento sobre vinhos daquele lado do mundo. O que conheço é muito trivial e com poucos pontos de referência. De qualquer modo, estava à espera de um vinho diferente.
Comentários
Sugiro que se cultive. Ninguém pode saber se Lisboa é uma bela ou não, se não conhecer Paris, Barcelona, Milão, Roma, Londres, Haia, etc, etc. No vinho é a mesma coisa.
Fiquei a saber que é um belo shiraz.
Quando tenho umas coroas vou até Tróia.