Nasceu em 2002. Num ano negro. Foi a primeira colheita que Álvaro Castro fez com uvas da Passarela e da Pellada. Lembro-me bem do prazer que tive ao tragá-lo pela primeira vez. Na altura, parecia-me completamente diferente do que habitualmente bebia. Comprei umas quantas garrafas que fui bebendo ao longo destes anos. Estou a verter, agora, a última. Ficam registados os momentos que tive com ele. Aqui assenta que nem uma luva a expressão: Não existe amor como o primeiro.
Pela derradeira vez, abriu ao mundo com muito café, em grão, moído. Passavam, pela frente, imagens das velhas máquinas de moer. O cheiro que largavam.
Pimentas, especiaria e uma farta mão cheia de ervas aromáticas puxavam pelo nariz. Obrigavam a fechar os olhos. Perceber, destrinçar uma coisa da outra. Volta à cabeça a mercearia com aqueles enormes frascos alinhados em cima do balcão. As doses pedidas, vendidas a granel, vinham envoltas em papel pardo. Os velhos na bancada do lado sorviam a jeropiga.
Coloco o copo de lado, penso um pouco mais no que está ali defronte. Inclino-me, largo um sorriso ligeiro. Saltam mais umas estampas. Fica a ideia que alguém passou por perto, vestido com camurcina, de cigarro na mão. Impressão minha. Alucinação, desvairo. O senhor Gilberto, velho mestre, não anda por aqui. Trilha outros caminhos.
Tempo de voltar ao vinho. Tempo para continuar a compreender, mais um pouco, o que salta lá de dentro.
Aromas e sabores da Natureza brotam. Mato denso. Árvores, muitas árvores perfilam-se bem alinhadas. Cascas por todo o lado. Fetos, ou coisa do género, oferecem sensações húmidas, frescas. As flores, que passam por entre as pedras, apresentam-se ao Sol. Tudo muito vivo, tudo com muita força. Longe da morte, distante do fim.
Olhei para os ponteiros. Que noite!
Dizia que não andava com cabeça para vinhos tintos. Rectifico. Não ando com cabeça para um tinto qualquer. Nota Pessoal: 18
Pimentas, especiaria e uma farta mão cheia de ervas aromáticas puxavam pelo nariz. Obrigavam a fechar os olhos. Perceber, destrinçar uma coisa da outra. Volta à cabeça a mercearia com aqueles enormes frascos alinhados em cima do balcão. As doses pedidas, vendidas a granel, vinham envoltas em papel pardo. Os velhos na bancada do lado sorviam a jeropiga.
Coloco o copo de lado, penso um pouco mais no que está ali defronte. Inclino-me, largo um sorriso ligeiro. Saltam mais umas estampas. Fica a ideia que alguém passou por perto, vestido com camurcina, de cigarro na mão. Impressão minha. Alucinação, desvairo. O senhor Gilberto, velho mestre, não anda por aqui. Trilha outros caminhos.
Tempo de voltar ao vinho. Tempo para continuar a compreender, mais um pouco, o que salta lá de dentro.
Aromas e sabores da Natureza brotam. Mato denso. Árvores, muitas árvores perfilam-se bem alinhadas. Cascas por todo o lado. Fetos, ou coisa do género, oferecem sensações húmidas, frescas. As flores, que passam por entre as pedras, apresentam-se ao Sol. Tudo muito vivo, tudo com muita força. Longe da morte, distante do fim.
Olhei para os ponteiros. Que noite!
Dizia que não andava com cabeça para vinhos tintos. Rectifico. Não ando com cabeça para um tinto qualquer. Nota Pessoal: 18
Comentários
Boas notícias as que deixaste aqui sobre o Pape 2002....ainda me lembro das palavras do Alvaro de Castro a dizer que receava que os enófilos bebessem este PaPe cedo de mais. Como te disse ainda hás de o beber outra vez :)
Abracos
Pedro Guimaraes
Fico à espera de o voltar a beber mais uma vez. Espero, na altura, que esteja ainda melhor :)
Abração
mais uma vez agradeço pela visita e pelo comentário. Acredito que o FLOR DE CRASTO não é o mesmo vinho que você conhece e que aqui no Brasil também recebe o nome de QUINTA DO CRASTO. Este último custa pelo menos 3 vezes mais do que o primeiro, que foi o comentado no blog.
Veja: http://www.quintadocrasto.pt/pt/vinhos_mesa.htm
Saúde!!!
Fiquei esclarecido
Um abraço deste lado do Oceano
ao ler este teu post identifiquei-me completamente. "Pela derradeira vez, abriu ao mundo com muito café, em grão, moído. Passavam, pela frente, imagens das velhas máquinas de moer. O cheiro que largavam."
Foi precisamente com o PAPE (não me lembro do ano) no Dão e Douro que pela primeira vez tive esta impressão com um vinho. Foi aí que percebi os aromas de torrefacção, de café em grão e moído.
E foi daqueles que nunca mais esqueci. Não o provo faz tempo mas sempre olho para ele com respeito e desejo. Talvez invista num dos últimos.
Boas provas!