Era a última do lote. A secção onde estava encontra-se agora vazia, despojada de qualquer garrafa. Quem tiver mais, faça o favor de convidar-me. Aceitarei e beberei de bom grado.
Os primeiros aromas, que transpuseram as paredes do vidro, mostraram aspecto profundo, indiciando, logo à partida, sensações diferentes, consentâneas com o que se passava na rua. Frio e humidade. Muito minério, bastante molhado. Estava cheio de tinta permanente. Recordei com saudades a minha velha caneta Parker que fez companhia na escola primária. São cheiros que nunca desaparecerão.
Lousa, xisto e granito passaram a ser o denominador do vinho. Pedra escorrida. O ambiente continuava fresco. Encerados e vernizes conferiam-lhe, de tempos a tempos, um certo ar reluzente.
Durante largos minutos, não passou pelas ventas, qualquer impressão relacionada com fruta sobrematurada. Valha-nos isso. Foi evoluindo, foi modificando o seu comportamento. Muita coisa não sabia o que era.Lousa, xisto e granito passaram a ser o denominador do vinho. Pedra escorrida. O ambiente continuava fresco. Encerados e vernizes conferiam-lhe, de tempos a tempos, um certo ar reluzente.
A especiaria (influências de uma conversa paralela) deu sinais de vida. O aspecto, agora, era mais exótico, mais oriental. Misturam-se com uma boa carrada de folhas de chá. Umas secas, outras mais verdes. Na dose certa, sem tendência para o enfadonho.
Passaram pela frente, mais uma vez, odores desconhecidos. É irritante quando isso acontece. Desesperante quando não se consegue fazer qualquer comparação.
A fruta, que entretanto surgiu, tinha tez muito azul. Vinha molhada, borrifada pela água.
Os sabores estavam repletos de finura. O corpo não tinha gorduras supérfluas, indesejáveis. Cintura estreita. A roupa assentava que nem uma luva.
O mineral e o químico estavam bem evidentes. O fim era levemente marcado pelo cacau preto.
Evoluiu (durante 8 anos) de forma bastante digna. Não perdeu nada e é capaz de ter ganho muito. Acredito piamente que iria evoluir ainda mais. Para onde? Para muito longe. Não sei! Nota Pessoal: 18Post Scriptum: Um gajo quando gosta, gosta mesmo.
Comentários
Em vez de citar Schopenhauer, vou limitar-me a dizer... «interessante quando não...»
Não acha? :)
Malandro, só pares-te quando viste o fundo à garrafita :)
Não sei o que é, mas dá prazer, irrita mas dá prazer. É difícil mas dá prazer.
É mais um Douro que abro e não chega aos 10 anos de vida com matéria suficientemente capaz de me encher as medidas.
Fruta doce, sinais de queda, de esquecimento, de senilidade, a sova que levou de um vinho mais barato e do mesmo ano foi tal que cada vez mais me afasto da compra de determinados vinhos em Portugal.
Deixo as carneiradas para outros artistas.