A vida de um amigo do vinho, sem dinheiro, em Portugal não é fácil. Está repleta de curvas e contra curvas, com muitos engodos pelo meio. É feita, quase sempre, toldada pelo medo de falar às claras (já falamos sobre o assunto).
É vedado ao pretenso enófilo a possibilidade de proferir palavras, publicamente e em voz alta, sobre vinhos comuns. Mesmo que beba e que sinta alegria fá-lo às escondidas, bem afastado do grupo. Evita, deste modo, uma remessa de complicações, como ser colocado de lado, ostracizado pela elite endinheirada e supostamente mais conhecedora (enche o topo da pirâmide do clube e tem funções de direcção).
Fico eriçado quando ouço e leio que o dinheiro trás conhecimento. Trás, essencialmente, arrogância e paternalismo bacoco. Esta afirmação não tem qualquer carácter politico, porque também ambiciono a malvada mas desejada riqueza. Maldita carne.O nosso bom nome pode ficar enxovalhado se dissermos que gostamos de vinhos sem nome, sem glória, sem história. A pena fica agravada se a maquia gasta ficou aquém do desejável. Um descuido destes e vai tudo por água abaixo.
Fico agastado, por vezes encolerizado, quando verifico o desdém que existe, quando arriscamos falar de coisas baratas (nada é barato). Do outro lado, quase sempre, sai um olhar de reprovação, de quem acha o assunto pindérico.
Infelizes são aqueles que, não tendo dinheiro, ficam impossibilitados de verem aceites as suas inscrições no clube. É que o conhecimento literário não basta. Não é condição suficiente. É imprescindível ter a carteira gorda (não esquecer, também, a importância do pedigree) para poder ser visto. Só assim poderemos almejar ter um lugar ao lado deles. Enquanto isso não acontece, ficamos do lado dos bêbados à espera de oportunidade. A outra opção é sermos párias. Enófilos sem terra, sem clube e sem grupo.
Fico agastado, por vezes encolerizado, quando verifico o desdém que existe, quando arriscamos falar de coisas baratas (nada é barato). Do outro lado, quase sempre, sai um olhar de reprovação, de quem acha o assunto pindérico.
Infelizes são aqueles que, não tendo dinheiro, ficam impossibilitados de verem aceites as suas inscrições no clube. É que o conhecimento literário não basta. Não é condição suficiente. É imprescindível ter a carteira gorda (não esquecer, também, a importância do pedigree) para poder ser visto. Só assim poderemos almejar ter um lugar ao lado deles. Enquanto isso não acontece, ficamos do lado dos bêbados à espera de oportunidade. A outra opção é sermos párias. Enófilos sem terra, sem clube e sem grupo.
Posfácio
Nos últimos dias, fartei-me de beber um vinho branco do povo. A dica veio por mensagem de telemóvel, no meio de uma noite.
Por 3€, este Terra D'Alter 2008 é um aglomerado de exuberância, de fruta roliça e fresca. Perto das gulodices típicas de final de tarde, consegue cumprir bem a sua função.
Enquanto não ficar farto dele, tenho aqui mais um companheiro para o petisco e para a esplanada. Nota Pessoal: 14
Por 3€, este Terra D'Alter 2008 é um aglomerado de exuberância, de fruta roliça e fresca. Perto das gulodices típicas de final de tarde, consegue cumprir bem a sua função.
Enquanto não ficar farto dele, tenho aqui mais um companheiro para o petisco e para a esplanada. Nota Pessoal: 14
Comentários
"Não tenho a culpa de ter boca de rico,e carteira de pobre"
Isto também faz com que eu apure os meus sentidos empíricos de "caçador" de vinhos com a melhor relação qualidade preço.
É uma luta...
Abraço
E acho que no vinho passasse mais ou menos o mesmo. Claro que os verdadeiros amigos ficam para sempre.
Vou outra vez por uma máxima:
"Mais vale poucos, mas bons"
o resto, são "amigos dos copos"...
ANDREZA, tinto do douro, tambem nas grandes superficies por 4 euros.
Cumps
JFReitas
Ps: pelo dia do pai bebi um vinhos dos tais k de certeza iria adorar Pellada 2003 da quinta c o mesmo nome
Um abraço
PS- Neste dia do pai, rachei com o meu pai um Quinta da Vegia 2005. Por vergonha evito comentários sobre este produtor, porque simplesmente gosto muito.
Esta é a frase essencial... Cada vez mais pessoas tentam adquirir o poder e dinheiro para parecer melhor ou com mais sabedoria... Mas não pode ser assim!!
Bom texto, abraços
E dá muito mais prazer descobrir, deixar que os nossos sentidos se supreendam.
Se um ou outro vinho forem uma desilusão, decerto haverão grandes e boas surpresas.
Pela minha parte continuarei a visitar os blogs dos enófilos sem dinheiro.É neles que se aprende e se descobre.
Saudações
Acho limitado, e muito, ficarmos pelo supra-sumo como também é muito redutor andarmos "sempre por baixo". Tem que haver um equilibrio.
É verdade que as experiências estão dependentes da nossa bolsa e aí não há volta a dar. Mas o importante é descobrir coisas novas, procurar novos sabores, novas emoções.
Sou sincero, actualmente bebo muito vinho que não estava à espera, um dia, vir gostar.
Quando regresso ao passado, as coisas não correm bem! É como as relações, uma vez quebrado o elo, nada fica como dantes!
Um abraço