Tazem (Dão) Touriga Nacional Unoaked 2005 e outras coisas

Chegado ao fim da semana, reparo que andou muito mexerico pela rede. Por um motivo ou por outro, em cada malha da rede, existia sempre qualquer coisa. Foi bom. Sinais de vida.
Reparei, mais uma vez, no especial carinho que existe por quem arrisca em falar de vinhos (bem ou mal). De blogueiros a bandoleiros. De fuzil na mão, só tenho pena que a munição seja pouca e não dê para disparar com a cadência que desejava. Raios.
Posto isto, e sem perder tempo com comentários ocos sobre objectos ocos (Para seguir com atenção a estória saltem para este tópico. A título pessoal, continuo por saber quem são os ilustres bloguistas e a iluminada crítica britânica que é comparável à Escanção e à Néctar), quero maçar-vos com mais umas linhas sobre um simplório vinho nascido no Dão. Trata-se de um Touriga Nacional Unoaked 2005 produzido pela Cooperativa de Tazem.

O enólogo Pedro Nuno Pereira continua a arregaçar as mangas para que esta Cooperativa consiga dobrar o Cabo das Tormentas. Será dos poucos que, aparentemente, tenta manter vivo o velho carácter dos vinhos do Dão. Só tenho que agradecer. Estou umbilicalmente ligado a toda região.
Apesar do nome transmitir um certo ar de modernidade, o vinho encerrava dentro de si um conjunto de argumentos algo tradicionalistas. O cheiro estava coberto de pinheiro, de sensações vegetais, de musgo. Forte impressão húmida. Leve impressão química. Por meio, notou-se um suave toque a especiaria ou, eventualmente, odores a folhas secas. Rústico, quase rude. No fim de tudo, desabrocharam as flores (influência do rótulo).
O sabor era ácido, seco, vegetal, químico. Nada de modernices aparvalhadas e descaracterizadas. É o que é, nada mais. Quando caía pela garganta abaixo, deixava na boca vestígios secos e vegetais. Precisa de comida pujante. Nota Pessoal: 15

Será, provavelmente, mais um vinho étnico?

UpGrade: Sobre o tópico, já estou (um pouco) mais esclarecido.

Comentários

Joel Carvalho disse…
Sabes Rui, infelizmente não é só esta cooperativa que sofre e é lhe dificil passar o "Cabo das Tormentas". Cada vez mais na Região do Dão as cooperativas estão a ir abaixo. Abaixo no sentido de estarem a ser passadas por Adegas cooperativas que estão em grande força no mercado e que até os pequenos consumidores e postos de vendas onde os vinhos das cooperativas (não necessáriamente esta) ainda faziam render algum dinheiro, até isso já foi "roubado". Eu fico com pena de ver este tipo de casos, olha não tens um muito longe de Tazem. A Cooperativa de S. Paio. Estão a passar dias de grandes dificuldades, chegando a direcção a trabalhar como meros empregados para que o pequeno ainda dê para as despesas...Coitadas das pessoas que lá trabalhavam, e eu que as conheço, é triste.

Esta adega está bem servida em sentido de enologia. É um enólogo de mente aberta, cheio de garra, vale apena conhecer.

Por vezes, simples palavras caem cá dentro muito bem, e as tuas foram uma delas.

Grande abraço
Joel e Raul, façam um apanhado dos vinhos dessas adegas e tratem de as colocar em contacto com os restantes blogs que nós tratamos de provar e divulgar os vinhos.

É para isso que cá andamos ou não ?
Pingas no Copo disse…
Estimado Joel, há muito que a COOP de São Paio anda a passar dificuldades. Não te esqueças que a COOP de São Paio não tem tanto historial como a sua parceira de Vila Nova de Tazem. Sempre foi mais "fornecedora do granel" para a UDACA e demorou a soltar-se dessa lógica. É capaz de estar a pagar ainda essa factura. Infelizmente a lógica actual de mercado é pouco tolerante com administrações e associações lentas, pesadas e antiquadas.
João, vou tentar contactar essas coop. para vos enviarem os vinhos e assim voces provam. ver se arranjo é o email de muitas delas, o dinheiro é tão pouco que nem site têm...

Abraço
Joel Carvalho disse…
Fui informar-me e tens razão. A Coop. de S. Paio sempre foi conhecida como vendedora de grandel, mas o mais interessante é que até ao ano de 2000 era a coop. mais medalhada no Dão com vinhos de qualidade. Tenho aqui uma garrafa do ano 2000, um reserva, "Encostas de S. Paio", para mim é uma reliquia, foi o ultimo ano de produção.

Outra coisa interessante. A freguesia de Cativelo há dez anos atrás, só esta freguesia, fornecia toneladas e toneladas para a Coop. de Tazem, era dezenas e dezenas de pequenos produtores. Ainda vemos a passagem deles pelos terrenos, vinhas velhas, com mais de 40 anos... Agora Cativelos tem apenas 3 produtores e dois deles têm produção propria e engarrafamento. Vai ser assim cada vez mais. Os pequenos produtores estão a ficar idosos, os filhos não querem saber disto para nada, e assim se vão enterrando pequenos projectos, mas que todos juntos faziam grandes vinhos nestas Coop.

É assim, está estipulado o destino. As cooperativas t~em que começar a ser independentes e terão que plantar vinhas próprias, mesmo que isso custe muito.

Um abraço (e desculpa lá escrever isto tudo)
Pingas no Copo disse…
Conheço muito bem o concelho de Gouveia. É a minha terra.

Medalhas? Não valem nada.
Antonio Madeira disse…
Por acaso no anos passado encontrei garrafas da coop. de vila de nova de tazem no intermarché de Seia (ainda la ha muitas). Eram todas garrafas ja com alguma idade (a volta de 2001/2002 se nao estou enganado) de vinhos monovarietais. Provei o TN, o Alfrocheiro e o Jaen. Gostei muito desses vinhos e ainda por cima eram mesmo baratuchos. Ainda hoje nao percebi como passam desconhecidos vinhos com esta RQP, capazes de envelhecer bem e com o caracter etnico que tanto aprecio (sim, Rui Miguel, partilho muitas das tuas ideias).

Abraço a todos vos.
Pingas no Copo disse…
António os Varietais de 2000 de Tazem foram no passado elogiados pelo José António Salvador, salvo erro num dos seus últimos guias.

Estou agora a lembrar-me de um Pedra D'Orca Reserva 1997 (espero não me ter enganado) que fez as delicias de muitos jantares em casa.
Antonio Madeira disse…
Tenho vergonha de perguntar, mas ao menos assim fico a saber...
Quem é o José Antonio Salvador?
Pingas no Copo disse…
Vergonha? Porquê? Se soubesses aquilo que não sei.
É um critico de vinhos. Escreveu durante muitos anos um Guia e agora (acho eu) escreve na Revista Visão.
Antonio Madeira disse…
Bem haja!