Um episódio
Não domino o francês, é muito parecido com a nossa espinhosa língua materna. Demasiados verbos, conjugações estranhas, tal como os nossos postulados legais. De qualquer modo, consigo sacar uma palavra aqui, outra acolá.
A sorte do tolo é conseguir, ainda assim, interpretar a linguagem do corpo. É universal. Torna-se (quase) impossível esconder as rugas, os traços da face, quando gostamos, detestamos, odiamos e gozamos. São o espelho do que sentimos. Nem mais, nem menos.
Nas vésperas do Festival Côtes Du Rhône, tive a ventura de abancar (na Quinta do Portal) com o núcleo principal de produtores franceses que iria estar no dia seguinte na Quinta de Nápoles.
Sentados à longo tempo, começaram a surgir na mesa alguns vinhos com alicante bouschet. Enquanto as garrafas iam girando pela tábua, era perceptivel o desenrolar da risota. Mon Dieu, alicante!
Sentados à longo tempo, começaram a surgir na mesa alguns vinhos com alicante bouschet. Enquanto as garrafas iam girando pela tábua, era perceptivel o desenrolar da risota. Mon Dieu, alicante!
Num inglês esforçado, explicou-se que essa casta, desprezada por eles, tal filho largado num orfanato, era agora uma casta nacional, responsável por alguns dos melhores vinhos do nosso sul. Eles, os franceses, olhavam-nos com sobranceria, com um ar condescendente. Coitados que ficaram com o que largámos na rua.
No final da conversa, e reparando que não havia convencimentos de parte a parte, surgiu a nossa última jogada: E o Carménère que foi adoptada pelos chilenos? O chauvinismo aumentou a olhos vistos. A noite tornou-se num momento de elevado gaúdio (para eles). Não deixavam de ser, ao fim ao cabo, duas castas rejeitadas.
Comentários
quem dera ao graillot fazer um mouchão.
um dia explico,
@my lair.