Quinta da Fata: as fotos, os vinhos e a terra!

A entrada longa, ladeada por oliveiras, faz-nos penetrar num mundo que, quase, não existe. Era a verdadeira Beira. Uma Beira nobre, clássica e distinta.
Há muito que estava marcado no meu mapa enófilo uma visita a este canto. Na verdade, tenho infindáveis X marcados na carta de orientação (ainda não aderi ao GPS). Espero, em tempo útil, atingir todos esses lugares.

As cores eram suaves, os recantos da Fata iam revelando pequenos tesouros, imagens, passagens em que o ritmo da vida decorre de acordo com as necessidades do homem. Nã há pressas, não existem modernidades desnecessárias. O relógio torna-se, fatalmente, um utensílio infrutuoso.
Lá no fundo, junto à casa, estava uma figura discreta à nossa espera. Eurico Amaral, personagem que conheci alguns anos atrás, recebeu-nos com gentileza pouco comum nesta realidade.

Ao som das palavras, das perguntas e das respostas ia disparando a máquina. Tinha que fixar aqueles cenários quase bucólicos. Por momentos esquecemos o vinho. Que importa!

Espaços simples, vinha tratada, quase jardim. Pinheiros, eucaliptos, mimosas pontificam em todos os lados. Encoaram novamente palavras repetidas na Ponte Pedrinha: Terra, lagar, alma. Receita, quase, ideal para construir um vinho, quase, quimérico. Reforça-se a ideia que pouco é preciso para fazer, basta seguir os passos da Natureza, deixá-la decidir.

É preciso ter uma enorme coragem para defender uma filosofia, um modo de estar pouco consentâneo com as modas actuais, em que tudo se manipula. Este homem e outros defendem esta filosofia até às unhas, às últimas consequências.

Enfiados num lugar, e sentados junto dos toros em chamas, fomos molhando a boca com os tintos da Fata. Desde o prosaico Clássico da colheita de 2006, passando pelo Reserva e Touriga Nacional das colheitas de 2007 percebia-se que havia ali qualquer coisa feita com paixão, vestidos com sobriedade e genuinidade. Sem madeiras curvilíneas e sem acrescentos bacocos.

Eram simplesmente o reflexo da terra e pouco mais. Quase puros. Ao fim ao cabo, são vinhos sem aqueles sabores e cheiros usados, incessantemente, nesta época estranhamente despida de valores. Por isso não beba. Sobra, mais, para mim e agradeço.

Comentários

Emilio disse…
Rui, vejo as fotos onde apareces e vejo a tua pele roja, duos pequenos cornos e um longo e fino rabo. E tes um grande tridente. Eres o demónio e queres tentar-me com novos -e pra min desconhecidos- vinhos do Dâo. Onde irai ficar o meu salário de verâo, Deus meu?

Abraços,

Emilio
Pingas no Copo disse…
Emilio, não digas a ninguém mas parte do meu ordenado está cativo para o vinho do Dão.

Abraço
Grapejuices disse…
Thank you for the post and photos.

In my view Q. d Fata is a fantastic wine producer, one not to miss when trying Dao wines. Unfortunately it is hard to locate in shops (in lisbon for instance). If anyone know retailers in Lisbon for this producer it would be appreaciated. Anders
Pingas no Copo disse…
Thanks Anders.

It's true! It's very hard to find some wines from the Dão in Lisbon.
João Barbosa disse…
Caro, nem imaginas... outro dia sonhei com a Quinta da Fata. fiquei surpreendido quando, nesse dia, vi o teu blogue
Pingas no Copo disse…
Isso é adivinhação!
Antonio Madeira disse…
Belos momentos!
Abraço
Jorge Esteves disse…
Ao ver estas fotos, senti-me na Quinta da Fata com o meu amigo Eurico e sua simpática familia.

Gostei.

Parabéns

Jorge Esteves
Caro Pingus,
Deparei-me agora em um supermercado na capital de minha querida Minas Gerais, com um Quinta da Fata Reserva (acho que o 2009, não sei ainda). Lembrei-me de ter visto algumas postagens suas sobre os vinhos desta vinícola. E em se tratando de um Dão, não poderia deixar de perguntar-te: Eu, que gosto de vinhos menos internacionalizados, mais autênticos, ficarei feliz com esta garrafa?
Abraços,
Flavio