Não há muito tempo falou-se em alguns saloons, vulgo fóruns, sobre o aparecimento de castas com identidade estrangeira em algumas regiões portuguesas. Recordo, se a tola não estiver a falhar, que irroperam vozes vociferando contra tal acto. Segundo esses pregoeiros, era a profanação do carácter de algumas regiões, como o Douro e o Dão. Seria o princípio do fim da nossa diversidade.
Curiosamente, na altura, ninguém referiu que a generalidade os nossos vinhos, construídos a partir das nossas castas, apresentam, já, perigosamente um conjunto de características muito semelhantes e que poucas diferenças apresentam entre eles, chegando em alguns casos a comportarem-se como puros australianos ou chilenos. Bastará escarrapachar no contra-rótulo nomes como Tinta Roriz, Trincadeira, Touriga Nacional e afins para que possamos ser desavindos e variados? Hum ...
Curiosamente, na altura, ninguém referiu que a generalidade os nossos vinhos, construídos a partir das nossas castas, apresentam, já, perigosamente um conjunto de características muito semelhantes e que poucas diferenças apresentam entre eles, chegando em alguns casos a comportarem-se como puros australianos ou chilenos. Bastará escarrapachar no contra-rótulo nomes como Tinta Roriz, Trincadeira, Touriga Nacional e afins para que possamos ser desavindos e variados? Hum ...
Sem saber o que estava à frente dos meus olhos, dei comigo a apreciar, a beber e a gostar de um syrah do Douro. O vinho apresentou-se muito cativador. Alfazema imiscuia-se no meio de uma carrada de pimentas. Proliferava, ainda, uma forte sensação a apara de lápis. Avançando com o meu desvairo sensorial, assomou-se a hortelã, a terra e a tosta. Tudo bem trabalhado, revelando precisão e rigor, nunca sendo um vinho imediato ou fácil. Foi, quase sempre, um vinho com personalidade e sentido de estar.
Paladar saudavelmente seco, rigoroso e com raça. Acidez viva e irrequieta, confirmando, também aqui, a sua precisão, o seu carácter. Enfim, que venham mais syrah's assim. Nota Pessoal: 17
Paladar saudavelmente seco, rigoroso e com raça. Acidez viva e irrequieta, confirmando, também aqui, a sua precisão, o seu carácter. Enfim, que venham mais syrah's assim. Nota Pessoal: 17
Comentários
No entanto, gostei francamente deste vinho (em prova cega) e tinha bem presente o carácter duriense.
Já falando do Grinon, que ao lado deste tem tudo o que este tem e ainda mostra mais complexidade, refinamento e carácter vincado à zona em que nasceu. Seguramente afirmo que o Valdepusa é mais vinho, mas sou suspeito.
Quantas vezes, numa prova ficamos enamorados com um determinado vinho? Neste caso, sabes muito bem não poderia a pensar no Valdepusa. Aliás, nem sequer pensei que houvesse um syrah português.
É o momento apenas e este Labrador foi, na altura que o bebi, um vinho que soube muito bem.
É isto que eu gosto de fazer discutir vinhos e não andar por fóruns a discutir o sexo dos anjos.
Por isso meu amigo, continuemos.
Um forte abraço
Ao ver este Syrah da Quinta do Noval (QN), há uma série de perguntas que me vêm à cabeça:
Há quanto tempo tem a QN esta vinha com Syrah?
Quantas vezes tem sido utizado este Syrah na produção de Vinho Porto (VP)?
Em que vinhos especificos e em que quantidades?
Será que vamos ver no futuro um VP vintage da QN com syrah?
Há mais, mas estas já chegam para já?
Vou tentar obter explicações por parte da QN.
Um abraço
Questão curiosa a do Syrah no Vinho do Porto, mas questiono se a casta Syrah consta das castas autorizadas para a produção do mesmo ?
Rui, o vinho quando o provaste achaste que era um Syrah com perfil Duriense, ou simplesmente viste um vinho com perfil do Douro onde nem te lembraste que era Syrah ?
Abraços e continue a animada conversa.
Nunca provei este vinho, por isso nao o posso comentar...
Em relaçao a questao do vinho do Porto, se nao estou enganado sao 5 as castas autorizadas e todas autoctonas, como tal a Syrah nao pode entrar em vinho do porto.
Em relaçao, a questao das castas estrangeiras, ja o tinha escrito no "saloon" (tas a ser um pouco duro) ha algum tempo, na minha opiniao é bom fazer experimentaçoes, permite abrir os olhos e alargar os horizontes. Alias, se quizerem experimentar outra coisa do que Syrah, CS ou Merlot, penso que se calhar nao era ma ideia experimentar castas do Sul de França (clima semelhante ao português) como o Grenache (a base dos CH9) ou o Mourvèdre (Monastrell para nuestros hermanos) que nos grandes Bandol da vinhos fantasticos quando bebido a partir de 10 anos (antes é mesmo infanticidio).
Agora tb penso, que as experiencias deste tipo sao boas desde que reguladas, ou seja que respeite o contexto e nao se tornem dominantes, porque temos a sorte de ter um patrimonio ampelografico, ha que aproveite-lo. Caso contrario nunca provaremos um grande Rufete ou um grande Negro Mouro :) E tornariamos um clone da Australia.
Tudo isto é uma questao de equilibrio.
Abraço
É curioso que alguns dos comentários no facebook não tivessem sido colocados aqui, porque a questão que lancei para o ar, e em jeito de provocação, é que muitas vezes andamos a beber vinhos com as nossas castas que possuem um comportamento muito semelhante ao que vemos no chamado Novo Mundo, com poucas diferenças, sem carácter, sem identidade, sem o tal terroir, comportando-se como vinhos de um lado qualquer.
Um forte abraço
PS- Olha que não estou a ser muito duro. :)
Ainda tenho na boca o sabor deste Syrah 2008, que provei ontem, juntamente com outros vinhos de mesa da QN e alguns Portos.
Infelizmente, Deus deu-me um nariz proeminente, mas sem qualquer capacidade de distinguir (muitos) aromas :-).
Na minha humilde opinião, o que interessa é discutir se gostamos do vinho ou não, se nos dá/deu prazer, do que discutir se é um Syrah com perfil duriense ou um Douro a saber a Syrah, ou...
Provei. Gostei. Gostei muito. Achei um vinho aveludado, macio, redondo, bem feito, bem integrado com a madeira, que dará com certeza muito prazer a beber já. E, não menos importante, com uma excelente relação qualidade preço (rondará os 16€…).
Daniel