Farto

Tenho, nestes últimos dias, enfiado nos copos muito vinho, bom, mas que não emociona. Vinhos sem erros e sem falhas. Copo após copo, trago após trago, dou comigo enfadado com aquilo vou bebendo. Estarei saturado? Ou a cuspir no prato que dá de comer?

As garrafas atrás de garrafas são colocadas de lado, ao fim de meia dúzia de gotas. Num ápice, arrolha-se e passa-se à seguinte.
Para aqueles que desdenham de nós e que baptizaram a trupe de máquinas de prova, estou dísponível para oferecer os despojos. Melhor, vou começar a convidar regularmente alguém para ajudar a esvaziar os vasilhames. Quem se oferece? Garanto que os cheiros e sabores andarão em redor da fruta madura, da madeira, dos fumados e do chocolate. Coisas da moda

Comentários

AJS disse…
Aqui há uns anos "alguém" dizia "é a vida" e deu no que deu. Espero que não estejamos a iniciar um ciclo desses no mundo do vinho.
As coisas vulgares que há na vida
não deixam saudades
só as lembranças que doem
ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
emoções que dão vida e acabamos por perder.
JSP disse…
mariza - chuva

'
'

pv, mas imaginas concluir um jantar sem beber? se sim, já consegues mais que eu.

mais, certo?

mais.
Conde das Barrocas disse…
As palavras são do Jorge Fernando e cantadas por muita gente.
Mas são muito bonitas e isso é que interessa.
A minha intenção, foi apenas ilustrar as palavras do Pingus com os vinhos estarem vulgares, e a ser assim, não deixarem saudades.
Em giria tauromaquica quando um toiro não é bravo mas que se deixa lidar, diz-se que é comodo, será que é o que está a acontecer a muitos dos nossos vinhos?
Não, não me imagino, e recuso-me sequer a iniciar uma refeição sem que haja vinho.
Pingas no Copo disse…
Gostei do conceito: vinhos cómodos. Gostei mesmo!
Hugo Mendes disse…
Eu também....
mas vinhos cómodos não requerem consumidores comodos?
Conde das Barrocas disse…
Hora aí está.
Na minha modesta opinião, e perdoem-me se estou a dizer alguma coisa fora de contexto é para onde nos estão a levar.
Será que, já se está a praticar uma politica de igualdade e conformismo em algumas adegas, e que passa por fazer os tais vinhos cómodos, para consumidores cómodos, e puderem ser comercializados também a preços cómodos.
Será este o caminho da nossa identidade?
Então qualquer dia o meu filho vai perguntar-me:
O que devo fazer para ser enófilo?
E eu se calhar vou ter de lhe responder:
Pede a Deus que te saia um vinho.
Pingas no Copo disse…
O pior é que alguns são vendidos a preços muito pouco cómodos para o consumidor.

Posso estar profundamente errado, mas tenho a impressão que a politica da igualdade (mais outro conceito que gostei) está implementada e espalhada, como se fosse uma peste.
Antonio Madeira disse…
A conversa esta a ser interessante, ja so falta falar do vinho étnico ;)
Entao e um vinho étnico pode ser universal?
E universal é diferente de comodo?
Pingas no Copo disse…
António, o vinho étnico, pela própria definição, é algo que define uma região, um país, uma sociedade, uma maneira de olhar o mundo e que pressupõe que os intervenientes tenham capacidade de interpretação. Julgo que não seja uma tarefa fácil, pelo que estamos a ver.

Colocas uma pergunta muito gira que é a universalidade vs comodidade. Assim, sem pensar muito diria que, eventualmente, poderão confundir-se.

Uma "coisa universal" agrada a muita gente, logo é cómoda!?

Se não é universal, poderá tornar-se incómoda para muita gente!?

Confuso...
JSP disse…
a conversa parecia morta, renasceu. assim gosto.

vinho étnico e universal... matua valley pinot noir, casillero cabernet... assim os sinto, pelo menos.

pv, pegando na parte mais cómoda do universal, de duas preposições negativas, nada se pode concluir ;)
universal é aquele que tanto é de Beja como de um cantinho na Austrália ou numa ponta da Argentina... interessam que sejam agradáveis e ponto.

Não vejo como um vinho possa ser universal e étnico... é o oposto da coisa. o étnico é pontual, minimalista e com um público alvo, não enche estádios mas enche os coliseus e teatros deste mundo. No meio disto tudo há aqueles que por mero capricho conseguem saltar do eixo, vinhos que mesmo étnicos são do agrado universal... será que isto pode ser ? Conhecem alguém que não goste de Moscatel Roxo ? :)

O pior disto tudo é que em Portugal estamos como na música cada vez mais a cantar em Inglês e não em Português, sintomático de uma universalidade pretendida... por isso haja fadistas que façam vinho sff... hehe
Hugo Mendes disse…
Em traços gerais, concordo com o que diz o João. Mesmo salvaguardando que a barreira é de facto muito ténue.
Entendo que muitas vezes há essa passagem á fama universal sem que contudo o vinho passe a pertencer a esse conceito de universal que referem. Veja-se por exemplo os vinhos do Porto, os Champagnes os Borgonha,…. São tudo vinhos que, tendo fama mundial, continuam na essência, fiéis à sua “fórmula”, mesmo que dentro existam produtos massificados.
Defendo que num país deverá existir uma quantidade de vinhos étnicos para prestigiar, mas que a grande maioria seja vinhos desenhados para o consumo, agradáveis, mas… o que não aceito é que esses vinhos tenham de ser aproximações aos vinhos de outras lactitudes. Ou seja, aceito que grande parte da produção seja desenhada para o consumo massificado, enquanto o país não ganha prestígio suficiente, o que não aceito é que se percam características nacionais e que se ande sempre a correr atrás das modas que vendem, dos conceitos dos outros. Nunca criaremos marca dessa forma. Até porque, a imitação nunca, mas nunca poderá superar o original….
Conde das Barrocas disse…
Voltando á minha linguagem tauromáquica (desculpem mas é uma forma de expressão a que estou mais habituado) parece-me que já vejo muita gente saturada dos vinhos(toiros)dóceis, toiros que se deixam lidar, que passam pela muleta uma, duas, três vezes sempre da mesma maneira,toiros que podem ser de uma ganaderia alentejana, como podem ser de uma ribatejana,as diferenças cada vez são menores e até se confundem,podem ser portugueses, espanhóis, ou mexicanos, as mães podem ser diferentes, mas parece que o semental foi sempre o mesmo, porque são apurados exactamente para serem desta forma (toiros de corda)que se roda a chave e eles baixam a cabeça e dão dois passes.
São toiros que aos aficionados os deixa frustados, porque tem na sua genetica, raça, nobreza e pundonor, e são bons mas falta-lhes serem bravos, para serem optimos, porque esses cada vêz são mais raros.
Pingas no Copo disse…
Estamos mesmo fartos (consumidores, produtores, enólogos, críticos) de vinhos dóceis, cómodos?

É que tenho, a impressão que no fundo continuamos a alinhar pelo grosso, pelo mainstream e sem muita vontade para fazer qualquer coisa com mais raça.
Transparente disse…
O mais engraçado é quer a malta queixa-se que os vinhos são todos iguais, e tal..., mas...poque raio não compram os "outros"? A moda é mais forte que a vontade? É mais importante/forte a vaidade de provar os grandes vinhos do Douro, do Alentejo, do que provar os Bucelas, os Beiras, os Bairrada?
Hugo Mendes disse…
Olha Rui!
Pegando nas deixas tauromáquicas, posso dizer-te que deixei de ir às praças quando começaram a aparecer cavaleiros que prezavam mais a figura que a arte. Nos toiros, isto vê-se muito bem! Para mim, é impossível ser-se um Mestre David ou António Palha Ribeiro Telles se não houver amor e arte!
Pergunto, e peço que façam a devida transcrição para o vinho, se os toiros cómodos não são mais apetecíveis aos maus toureiros!
Hugo Mendes disse…
Miguel,
Eu vejo a coisa de outra maneira! Com sistema ou não, a verdade é que as marcas são feitas, ainda pelos retalhistas que não têm interesse em empatar o seu precioso capital, em vinhos que não tenham a fama feita e lhes proporcione um nível de risco que, sinceramente não o precisam.
Também por isso são, normalmente vinhos difíceis de encontrar, porque a distribuição também não os valoriza.
Penso que, mais tarde que os outros, vamos colmatar essa lacuna, quando as vendas pela internet se massificarem! Talvez quando a geração que está na casa dos 25 começar a beber vinho!
rei dolce disse…
gosto do tema.

1- concordo que existem muitos vinhos "iguais ou parecidos" no paladar e no cheiro no mercado.
2- aqui, julgo que o mercado tem ditado as modas
3- os produtores têm que vender, logo procuram vinhos de "facil trato"
4- mas existem, muitos vinhos que ainda marcam a diferença e que têm as caracteristicas da região
5- Vinho verde é disso exemplo, pois dentro da região, os vinhos têm a marca da sub-região onde são produzidos.
6-a força do marketing dita leis,e as regiões mais fortes, são também as que estão mais iguais
7- tenho comprado vinhos de regiões menos comerciais, e tenho encontrado de tudo
8- ainda recentemente comprei duas garrafas de colares, ainda não sei o que valem, nem sei se devo guardar e beber desde já...
9-outra coisa que não me agrada, é o preço que muitos produtores pedem pelos vinhos supostamente diferentes
Pingas no Copo disse…
Uma pergunta de cinco tostões:

Para vocês é mais fácil um pequeno produtor/enólogo criar vinhos étnicos ou um grande produtor/enólogo?


PS- Eu tenho a minha resposta.
Pingus , respondo-te que depende da escola que o enólogo teve. Se estiver formatado para fazer apenas vinho digamos comercial não há volta a dar... seja pequeno, médio ou grande. Repara por exemplo no Campolargo, um grande produtor que tem nos seus produtos a diferença bem demarcada... outros há da mesma dimensão em que os vinhos são de cariz mais comercial, mais falados e destacados.
Hugo Mendes disse…
Não percebo a armadilha, mas entre um e outro, para mim é claramente o pequeno, porque:
1ºUm vinho étnico requer, quanto a mim, a realização por parte de uma equipa a mais reduzida possível. Se puder ser a expressão de apenas uma pessoa, tanto melhor.
2ºA qualidade de um vinho destes aparece da soma de pormenores e apertada monitorização. Quase impossível em casas onde a escala é muito grande e o core business são outros vinhos.
3º O dimensionamento dos equipamentos é muito importante. Exemplo, um vinho branco, fermentado a frio é completamente diferente numa cuba de 5000L e numa outra de 50 000L.
4º A gestão do risco é completamente diferente. Uma empresa que tenha um nível de encargos muito grande, não tem a mesma capacidade de arriscar um mau vinho que tem uma outra mais pequena e com uma máquina mais leve!
5º Uma empresa com grandes necessidades de cash flow, não tem tempo a perder com vinhos difíceis de vender!

Mas, claro, como em tudo, há honrosas excepções!
Hugo , então um produtor por ser grande em dimensão não pode ter uma pequena produção de um produto digamos mais étnico, mais folk, mais castiço do que o digamos Pop ou comercial.

A Quinta das Bageiras o que é ? ou o Luís Pato ?

Acho que o saber fazer depende muito da escola que se teve, da maneira como foram sendo formatadas as ideias de cada enólogo ao longo da sua vida académica e profissional.

Vinho étnico não faz quem quer, faz quem sabe e pode, e isso não é para todos é para alguns que tem a sensibilidade para tal.
Conde das Barrocas disse…
O pequeno produtor ás vezes quer e não pode,o grande produtor ás vezes pode e não quer.
Hugo Mendes disse…
João, Lê os posts até ao fim!
E deixa de uma vez de pensar nos produtores que aparecem nas revistas como se fossem os unicos que existem ou que a sua realidade seja representativa do sector!
se quiseres apresento-te casas ainda maiores que são a excepção que refiro, mas, para além de ser, apenas a minha opinião, não considero que uma realidade de 10 ou 20 casas defina a generalidade do que se passa por aí!
Pingas no Copo disse…
Hugo, naõ há armadilha, apenas quero alimentar a conversa. :)

Mas mais um toro. E, às vezes, por dificuldades financeiras, ou poder de compra reduzido, de determinados produtores acabam por dar-nos vinhos eventualmente mais étnicos.

Não acham que determinado handicap, mesmo que não seja desejado por parte da produção, acaba por dar origem a "coisas curiosas" (sei que é confortável, mais cómodo estar do lado do consumidor)?

O Conde fala num ponto interessante. Eventualmente um grande produtor teria muito mais capacidade ou facilidade para desenvolver um produto diferenciador, estou a recordar a Niepoort, por exemplo, que um mais pequeno que precisa de criar, com alguma rapidez, maior músculo financeiro.

Outro exemplo, contrário, é a Global Wines, que aparenta ter arcaboiço para desenhar vinhos menos cómodos, mas não os faz.

O João, aqui para nós que ninguém nos lê, achas mesmo que os vinhos de Luis Pato, neste momento, podem levar o epíteto de étnicos? É só uma dúvida, nada mais.


PS - O Abilio que devia andar nestas discussões afasta-se. Tentem chamar o homem, que anda no FB.
Hugo então penso que seja melhor definir-se o que é o grande produtor e o pequeno produtor, e o médio... porque se o grande produtor pode ser uma Cooperativa do Redondo que faz milhões de garrafas... o pequeno produtor pode ser um Jimenez Landi que faz 200 garrafas do seu topo de gama.

Afinal o grande produtor é aquele que lança 5.000 garrafas, o que lança umas 50.000 para o mercado ou o que lança umas 150.000 para o mercado.

Certamente que com menor produção/menor área de vinha se apura mais o terroir e a sua interpretação num vinho... mas até que ponto é que essa corda é esticada nos dias de hoje e ainda mais no mundo do vinho em Portugal ? Até que ponto é que vamos continuar a engolir supostas Vinhas Velhas e supostos vinhos ditos de terroir em vinhos de ampla produção ?

PS: Pingus, tens razão que os vinhos do Luis Pato já foram mais Folk do que são nos dias de hoje, mas continuam a ter essa característica presente... Bageiras sim muito mais vincados e tradicionalistas... talvez Sidónio de Sousa mais purista ainda. Sei lá... olha vou lanchar.
Abílio Neto disse…
Ufa! E saio. Uma delícia...

Abr.,

An
Pingas no Copo disse…
Hum, Sidónio? Não provo disso faz tempo, muito tempo, mas pelo que tenho lido, está noutra onda.
Antonio Madeira disse…
A conversa ta muito interessante e com varias questoes.

Sobre a questao da universalidade acho que vonvem distinguir do comodidade. Acho que alguns vinhos étnicos pdodem ser universais no sentido em que qualquer pessoa que prove gosta. Exemplo: A maior parte dos vinhos provenientes dos grands crus da Borgonha, de Bordeus e de muitas outras regioes, inclusive portuguesas.
Nao quer dizer que sejam vinhos comodos, principalmente enquanto jovens.

Sobre o tamanho do produtor e a relaçao com os vinhos étnicos e os vinhos comodos, acho que existe um pouco de tudo, uns com a balança mais para um lado e outros para o outro. De certa maneira, um vinho é étnico se reflete pureza e respeito pelas tradiçoes e cultura de uma regiao. Entendo um vinho comodo geralmente como um vinho doce, morno, abaunilhado e que nao reflita a frescura da fruta e do terroir, penso que para vocês sera igual.

Nao sou o Joao, por isso a pergunta nao foi para mim, mas acho que o Luis Pato produz vinhos étnicos, nao quer dizer que tb nao produza alguns vinhos mais comodos, tb é gestionario e nao vejo mal nisso. Mas vinhos como o Vinha Formal é um dos melhores exemplos de Bical(o nosso Borrado das Moscas :) ) que temos em Portugal! O Ribeirinho Pé Franco, praticas préfiloxéricas, Baga, Bairrada puro, nao?
O Vinha Pan e outras vinhas?
Ele participou a divulgaçao do conceito de terroir e de vinhas em Portugal, por isso merece o meu respeito.

Continuem a conversa que ta a ser fiche!
Pingas no Copo disse…
António, acho que vou dizer asneira, Luis Pato é uma figura incontornável, mas parece-me que o mérito principal - é muito simplista esta visão - foi tornar a baga mais universal, trabalhando-a de outra forma, de melhor forma. Aliás, ele acabou por vender o nome dele, e bem, e borrifou-se para a região.

Falas aí, da Bairrada Pura, o mesmo se aplica ao Dão, o que é? Olhando para Luis Pato, não me parece que ele encarne completamente o conceito da Bairrada Pura, com lagares, engaço, toneis avinhados e usados anos após anos.

De facto, existem vinhos universais que não são nada cómodos, mas como é que se conseguiu chegar até aqui? Com vontade? Com conhecimento? Com dinheiro? Com educação?

PS - António, diz-me lá tu que tal como eu somos amantes do Dão, quais são os vinhos mais étnicos que conseguimos encontrar por lá?
Antonio Madeira disse…
Os lagares e os toneis ja faz parte da adega e das suas técnicas. Introduz o factor humano e social na parte das praticas empiricas de adega. Eu falava mais da parte da matéria prima, da uva.
Isto faz me pensar que se calhar nao tive em conta todas as dimensoes do conceito de vinho étnico.

Epa para se chegar aos vinhos universais, raramente la chego mas acho que é um pouco com isso tudo que disseste e muita dedicaçao. Para outras pessoas privilegiadas em termos financeiros sera provavelmente mais facil...

Sobre o Dao acho que ainda nao vi e muito menos provei tudo... Mas neste ainda curto caminho consegui encontrar uns vinhos bem interessantes e que me deram muito prazer, Posso te dizer os vinhos do Dao que gostei, se sao universais ou etnicos nao sei.
Mas a lista vai ser comprida...
Este verao gostaria de conhecer os Casa de Mouraz, estou curioso por diversos motivos, porque se trata de um vinho de uma zona do Dao que menos conheço, porque trabalha de forma biologica e porque se bem me recordo utilizam a casta Agua Santa (nunca tinha ouvido falar).
Estou curioso por conhecer melhor aquela zona do Dao. Queres ir?
Pingas no Copo disse…
António, de der para darmos um salto durante a nossa estadia em Seia-Gouveia, vamos a Casa de Mouraz, porque também com muito interesse para voltar a reencontar os vinhos deles.
Antonio Madeira disse…
Rui Miguel, as tuas perguntas sao muito interessantes, e agora tenho a sensaçao que vinho puro, que reflete o seu terroir e vinho étnico podem ser duas coisas distintas, com intersecçoes e areas comuns, mas nem sempre.

No Dao nao sei que praticas encentrais existem na parte da adega, tem havido uma modernizaçao nos equipamentos, mas nao acho que isso seja mau. O que me preocupa em relaçao ao Dao é um pouco o mesmo para as outras regioes, é que nao se respeite o terroir donde vêm os vinhos. Isso pode se passar na vinha e na adega.
Se tivesse de recomendar alguns pontos a melhorar en termos gerais sobre o vinho do Dao e de Portugal em geral seria que se uzasse menos barrica nova e que se estudasse melhor a noçao de terroir. Que se procurasse conhecer melhor os solos, os microclimas, as castas autoctonas, que se pretendesse refletir isso e menos a barrica nova para ja nao falar em aduelas.
O problema é que raros sao os grandes terroirs e por vezes estao ao abandono (como é em alguns casos na Bairrada, segundo o artigo do Joao Afonso na RV de Janeiro 2010). Muitos produtores herdao de quintas que nem sempre sao grandes terroir ou em outros casos investidores compram terrenos para investir num negocio, mas para volume nao para vinhos de terroir. Por isso e pela obrigaçao de vender produzem vinhos comodos e nao de terroir (nao digo étnico porque pelo que percebi terroir e étnico nao sera a mesma coisa), mascarado os defeitos com camadas de madeira, leveduras e truques enologicos.

Nisto tudo o que mais falta é educaçao dos consumidores e por vezes mesmo dos produtores, provavelmente so com muitas iniciativas e tempo se conseguira aumentar o numero de convertidos.
Eu noto essa diferença de ver o vinho entre Portugal e França, aquile dasse muito mais importancia ao terroir do que ai, pelo menos parece-me, mesmo se nao é o caso de todos os franceses (aqui os enofilos tb sao minoria na populaçao, mas em numero sao muito mais).
E estou a escrever sabendo que eu tb ainda tenho imenso a aprender.
Pingas no Copo disse…
É um gosto ler as palavras de um apaixonado.

Sabemos que muito do vinho puro que se bebia, estaria cheio de erros/defeitos(isto é matéria para os entendidos). Naturalmente não é disto que estamos a falar.

Estaremos a pedir, não sei se é possível, um regresso ao passado, mas com maior controle sobre as variáveis? Ou intervenção minimalista?

Estou, neste momento, a relembrar as palavras de uma enóloga que dizia: "isto é o que a natureza dá."
Pedro Sousa P.T. disse…
Não vou falar de produtores, grandes, médios, ou pequenos, muito menos de terroir ou madeira, frutos silvestres, vinhos étnicos, ou globalizantes. Não nada disso. Vou falar como consumidor apaixonado puro e duro e pouco endinheirado para supérfluos.
Ando atrás da melhor relação qualidade preço!!! E acabou!
Não me posso dar ao luxo de ultrapassar um limite de gastos na base da opinião, ao tentar saber se este vinho é comercial ou alternativo. Claro que podendo, não hesito e vou para o alternativo ou étnico, chamem-lhe o que quiserem. Mas se me puserem à frente, e vou dar um exemplo aqui do Rui Miguel, um Ermelinda Freitas Sauvignon Blanc & Verdelho 2009, a 3€ à frente numa promoção é claro que compro, mais que não seja pela curiosidade. E nem olho para o resto que é mais caro.
O que eu quero dizer, e acho que falo em nome de uns quantos, é que infelizmente jogo à defesa, posso jogar mal, mas tenho de o fazer. Gosto muito de degustar um bom vinho, adoro até, mas não dá para ir a todas. E por vezes, à defesa, também se garantem vitórias.
Rui Miguel, aqui vai uma delas, hoje comprei uma Valle Pradinhos Branco de 2005, por 3,60 na Garrafeira Nacional. Mais uma defesa:)

Abraço, e vamos é tratar de abrir as garrafas que lá tens :)
LM disse…
Bela discussão.
Anónimo disse…
Caro Hugo,

Permite-me discordar um pouco de ti. Vinho é cultura. E se queremos enófilos/consumidores com cultura vínica temos de estar disponíveis para ensinar. Não é possível querer obrigar as pessoas a visitar o museu às 11 da manhã de um dia de semana. Ninguém pode. Claro que podes ir aos museus ver arte romana mas se queres sentir/viver tens de ir a Roma.

Ou seja o papel de divulgação dos vinhos não pode ser posto nas mãos das distribuidoras ou dos retalhistas. É fundamental os produtores fazerem muito mais para mostrarem os seus produtos. Na minha opinião o primeiro passo a dar é ter as quintas abertas ao fim de semana.

Em relação aos vinhos tradicionais assisto às discussões com muita atenção mas acabo por concordar com o Pingus. Queremos tradicional e diferente mas o que é que bebemos?

JC
Hugo Mendes disse…
JC,
Mas eu sou o tal que me disponibilizei a partilhar com o consumidor quaisquer conhecimentos vínicos. Para além de um blogue que me custa muito manter, criei um outro na empresa onde trabalho para promover a aproximação e a discussão, não a desligando da componente formativa e, recentemente, propus fazer uma espécie de formação, online e gratuita (pelo menos numa fase de construção!) mais virada para a realidade da vinha e adega (ainda não comecei por expressa falta de tempo, mas sairá!).
Garanto que os resultados estão longe de serem animadores, ou similares a outras paragens mundiais… ainda há muita pedra para partir…!
Sobre as distribuidoras, o que refiro é pouco mais que uma análise á situação actual, muito diferente daquilo que defendo.
Se quer saber (explicarei isto mais tarde!) eu entendo que o marketing de uma marca tem, cada vez mais de ser feito pela empresa produtora com enorme intervenção por parte da equipa de enologia…
O foco das distribuidoras é cada vez mais outro e a construção de marca, por parte deles é baseada noutros conceitos, muitas vezes, diametralmente opostos ao da produção! Nada de mais, apenas conceitos diferentes!
Anónimo disse…
Caro Hugo,

Não queria levar a conversa para este rumo. Mas sim para a paixão/amor que os produtores têm que ter pelos seus vinhos. Não duvido que vocês a têm. Mas parece me que falta muita alma, um sentimento quase indescritivel que sentia nalguns produtores que desapareceram no último ano. Pessoas disponíveis para produzir vinhos diferentes e explicá-los apaixonadamente.

JC
Hugo Mendes disse…
Pelos vistos, a alma não vende vinho!
Mas é por isso mesmo que afirmo que a gestão da marca e o marketing tem de passar muito pela equipa de enologia. Sei que, muitas vezes a alma da casa é o produtor (deveria ser sempre, mas não é!) e então caberá a ele tomar as rédeas!
Mas, JC, não é pelo facto de alguém poder ter uma visão comercial e algum conhecimento em marketing que perde o amor pela coisa! E também não considero que a mensagem perde valor quando é apoiada em algumas ferramentas de marketing, desde que se esteja convicto da veracidade do que se afirma. Até porque, nem o marketing nem a gestão moderna se compadecem dessa forma antiquada de vender produto que se baseava em apregoar qualidades, tivesse ou não.