Sinto que estou a largar, a despir-me das prosaicas notas de prova, colocando-as no armário, metendo-lhes naftalina. Parece que estou a quebrar com o vício de falar em taninos, em prolongamento, em final de boca. Julgo que estou a conseguir. Julgo. Seria, num acto de derradeira desintoxicação, o grito da minha libertação. Pior serão as eventuais recaídas, o regresso ao tempo perdido nas infrutuosas descobertas de aromas e sabores. O medo de regressar ao velho hábito é imensamente grande. Desmesuradamente grande.
Disseram-me, algum tempo, que este tinto andaria pelas ruas da armagura. Desconfiei da afirmação. Aberta a última, terminando o meu lote de Quinta do Monte D'Oiro, resta-me apenas a sensação, a afortunada sensação, que a minha garrafa cumpriu, e muito bem, o seu papel. Ele estava soberbo, elegante, complexo e altivo. Ele simplesmente despediu-se, de mim, em grande estilo. Poucos têm conseguido a proeza. A saudade, essa, instalou-se. Nota Pessoal: 18
Comentários
É isto que ando a tentar dizer há muito tempo, estamos aí.
Quando pelos conhecimentos adquiridos atingimos determinado estatuto, os chavões já estão cansados e gastos, e já não queremos perder tempo com eles, nem vale a pena.
A isso meu caro amigo, chama-se:
Inteligência no tempo real.
Fantástico.
Mas como dizes, também, a minha última garrafa estava fantástica.