Herdade do Portocarro, a terra de Anima!

Esta crónica vai estar coberta de sentimentos tendenciosos, assumidamente pessoais e que pretende, acima de tudo, mostrar o meu contentamento por ter cumprido mais uma tarefa enófila de extrema importância.

Recordo, ainda, com alegria desmesurada a primeira vez que provei o Anima. Lembro que a diferença de estilo, de comportamento, distanciava-o de outros vinhos. Não tinha nada haver, não tinha comparação. Aquilo era algo completamente estranho e de difícil interpretação. Cheiros e sabores estavam, já na altura, deslocados da prática. Tinha, portanto, que ir até à terra onde nascia este singular vinho, feito com uma casta -  sangiovese - que salvo lapsos de memória, não pontificava em Portugal.

O lugar, Herdade do Portocarro, está perdido algures na fronteira entre o distrito de Setúbal e Évora, paredes meias com a Ribeira do Sado, ladeada por um dos lados pelo verde dos arrozais. A vista é reconfortante, o vento, esse, mesmo num dia de calor não cessa.

Feita a recepção pelo ideólogo da Herdade, José Mota Capitão, fui convidado a fazer uma viagem intimista por aquelas terras. As vinhas serpenteavam os arbustos, as árvores, acompanhando a delimitação da cerca. Em cada paragem, roubava-se um bago. Por cada dentada dada, havia sempre uma explicação, um pormenor que merecia ser contado: ou era a doçura, ou era a graínha, ou era a película. Pelo meio, olhava-se para as parras, comparavam-se as semelhanças ou a falta delas, outras vezes pegava-se na terra mirando as diferenças. Noutros momentos, bastava-me ouvir o vento, sentir os cheiros daquele lugar escondido. No regresso foi feita a habitual, mas não desprezível, visita à adega. Simples, de espaço modesto, prática, com o necessário.

A epopeia terminou com um copo, com um valente trago do novo Anima da colheita de 2007, a olhar para a pacholice do gado.

À medida que a distância aumentava, reconheci a coragem de um homem que pouco se importa se os seus vinhos são Terras do Sado ou outra coisa qualquer, não ligando ao facto de um dos seus vinhos, mais emblemáticos, pertença à categoria menos valorativa, sendo um simples vinho de mesa.

Comentários

Posso dizer que em casa é o vinho da minha mulher... e ela nisto dos vinhos é mais esquisita que eu.
Nuno Monteiro disse…
Deste-me vontade de abrir o L6 que ali tenho :)
Pingas no Copo disse…
Nuno, eu estou à espera do lançamento do L7 para completar a série.
João, a tua mulher tem bom gosto.
Antonio Madeira disse…
Bela reportagem, fiquei com a curiosidade aguçada, com vontade de conhecer os vinhos e o sitio.
De facto essas paisagens e as sensações de paz que procuram são reconfortantes.
Abraço
Pingas no Copo disse…
António, como eu te conheço, tu irás gostar, decididamente tu irás gostar.
Para a próxima que tiveres em PT, com tempo e eu estiver no sul, vamos até lá.
Abraço
Antonio Madeira disse…
Bem haja pela proposta, seria com muito prazer. A ver se combinamos isso.
Abraço
Raul Carvalho disse…
E ninguem fala do Cavalo Mluco? Não viste por lá nenhum?

Abraço
Net Vinhos
Pingas no Copo disse…
Cavalo maluco? nop. Estamos calmos