Encerrando a proposta, o jogo, a brincadeira, como queiram, lanço para o tabuleiro os nomes dos vinhos e as pontuações que granjearam. As notas de prova foram retiradas da Revista de Vinhos, sendo sacadas de três painéis de prova feitos com vinhos de regiões diferentes: Dão, Douro e Alentejo. Podem confirmar e verificar se a coisa bate certo, consultando as edições dos meses de Março de 2010, Novembro de 2010 e Dezembro de 2010.
O Vinho 1 que tinha a nota de prova: "Chocolate, fruta vermelha e preta, especiarias, minerais, tosta doce. Firme na boca, com garra, corpo robusto, taninos rugosos, boa acidez e final de muito bom comprimento", era referente a Herdade das Servas (Alentejo) Reserva 2006 e teve a classificação de 16,5 valores. PVP recomendado: 18€
O Vinho 2 que tinha a nota de prova: "Muito elegante, sofisticado, com fruta preta, minerais, tosta, tudo muito integrado. tenso e estruturado na boca, com taninos firmes, corpo sedoso, muito fresco e sedutor, final muito longo." era referente a Passadouro (Douro) Reserva 2008 e teve a classificação de 18 valores. PVP recomendado: 40€
O Vinho 3 que tinha a nota de prova "Destaca-se neste vinho a qualidade geral da fruta que apresenta, a enorme proporção entre as várias componentes, uma grande delicadeza da prova de boca que equilibra potência e subtilezas múltiplas. Um vinho para ir descobrindo e saborear lentamente." era referente a Munda (Dão) Touriga Nacional 2007 e teve a classificação de 17,5 valores. PVP recomendado: 20€
O Vinho 4 que tinha a nota de prova "Fruta preta, madeira evidente mas sem excessos, chocolate minerais, complexo. Encorpado e texturado, com boa frescura, final longo e morno." era referente a Quinta de Vila Maior (Douro) 2007 e teve a classificação de 16,5 valores. PVP recomendado: 29€
O Vinho 5 que tinha a nota de prova "Concentração muito forte de cor, com notas químicas no aroma austero, de fruto preto, madeira integrada. Tudo maduro e cheio. Bom volume de boca, fruta franca, taninos vivos, um tinto muito impositivo que precisa de tempo em garrafa." era referente a Pedra Cancela (Dão) Reserva 2008 e teve a classificação de 16 valores. PVP recomendado: 11,90€
Largando opinião pessoal, existe em quase todos os textos enorme, quase desmedida, concordância de termos e expressões (fruta preta, madeira, tosta, taninos...) o que indicia triste afunilamento nos estilos, nos sabores e nas sensações. Indo de Norte a Sul, podemos sentir o mesmo. Basta seguir a regra que, com menor ou maior dificuldade, temos um vinho dentro dos preceitos pretendidos. Poderia ter pegado noutros exemplos que a conclusão, julgo eu, não seria muito diferente. Para quem consultou as prova realizadas com vinhos do Douro e Alentejo, pela RV, repararam, só por acaso, na constante repetição das mesmas palavras, dos mesmos adjectivos, das mesmas coisas? Tapando os rótulos, facilmente poderíamos trocar textos que não se notaria a jogada.
Efectivamente nota-se, sendo demasiado visível, que com os escritos despidos da classificação numérica a similaridade de noções e conceitos ficam ainda mais acentuados. Eu não saberia o que escolher!
A palavra é menorizada em relação ao número, completamente relegada para segundo plano. Um tique transversal a todos os que falam de vinhos, estejam do lado de cá ou do lado de lá. Solta-se para o ar meia dúzia de conjugações e temos uma nota de prova. Escrevem-se umas balelas e coloca-se a classificação. Se assim é, porque se escreve? Faça-se simplesmente um enunciar de números, que será certamente muito menos confuso. Deixemos a Matemática a funcionar livremente.
Recitar, por aí, que o dito tem taninos espigados, tosta doce ou fruta mais ou menos madura, comprimento médio, resssoa, na melhor das hipóteses, a inocuidade. Na pior, a pura banalidade ou a tédio. Com alguém disse, por aqui, com textos destes tanto pode acompanhar com 15 como 18.
Recitar, por aí, que o dito tem taninos espigados, tosta doce ou fruta mais ou menos madura, comprimento médio, resssoa, na melhor das hipóteses, a inocuidade. Na pior, a pura banalidade ou a tédio. Com alguém disse, por aqui, com textos destes tanto pode acompanhar com 15 como 18.
Olhando para o que dizem as palavras, e tentado, não ligar a factores subjectivos, dado que sou um ser influenciável, foi a nota de prova do Munda que prendeu o meu olhar. Segundo os ditos do autor, temos um vinho muito equilibrado, que aposta essencialmente na elegância. Querem mais?
Discutamos, então, mais um pouco!
Comentários
Já o acrescentei aos meus links vinícolas.
Cumprimentos,
Sérgio Lopes
http://enofiloprincipiante.blogspot.com/
Acerca das notas, como alguem aqui disse são um indicador interessante e claro um indicador é de certa maneira uma sintese, simplifica, não reflete tudo. Ai o texto pode ajudar a entender melhor o vinho, mas provavelmente uma nota nunca sera o perfeito retrato do vinho porque para o perceber so provando e mesmo assim...
De resto resta-me felicitar-te pela qualidade dos teus posts, pelos vistos nem sempre entendidos.
Abraço
PS: Ia-te dizer para não ligares aos detractores, mas certamente que não precisas deste conselho. Poésia, enofilia, filosofia, nem todos gostam, mas pelo menos o teu blog tem conteudo e de qualidade. Acho que reflete maturidade e reflexão acima da média. Eu gosto de ler e mais que tudo o importante é tu teres prazer nisto e seres coerente contigo proprio.
no sentido estritamente prazeiroso da questão, pode muito bem um vinho de 14 valores para o critico, ser um vinho de 18 para o consumidor! ou não?
A título pessoal, aconteceu-me por diversas vezes esse facto. Escrevia quase sempre o mesmo e depois oferecia ao vinho valores que não tinham qualquer correspondência com o que dizia. Havia qualquer coisa que não estava bem. O que me levava a dar 15 ou 15,5? Quanto vale 0,5? Ou mesmo 1 valor?
Não creio que a análise de um vinho seja o resultado de um processo de tabelas ou fórmulas, dado que estamos a falar de avaliação sensorial e ela é efectivamente diferente de individuo para individuo.
Sinceramente, penso que as notas quantitativas tender a ficar no estado de "Globalização" das palavras ( se é que me faço entender).
A apreciacção tende a ficar generalista, fazendo com que todas as regiões, todos os vinhos, todos os produtores utlizem o mesmo vocabulário.
Esta nota foi retirada algures por aí... pergunto eu se o vinho é branco ou é tinto, pergunto também se é isto que se pretende quando se envia uma amostra a um dito critico, gostava de saber se isto que lemos acima é que é ser critico...
PS: Continuo sentado à espera que qualquer iluminado me indique novo palavreado para substituir os ditos indicadores das castas... porque não sei o que falha, será o vinho ou será quem o prova e escreve ?
Compete a quem prova ser competente, saber transmitir as emoções de um vinho é fundamental, uns conseguem isso melhor que outros. Agora, palavras soltas não me identificam um vinho, palavreado mundano não me diz se o vinho é isto ou aquilo, é ler e ficar na mesma... tal como leio a nota de prova que meti.
Mas já agora onde tiraste a nota de prova?
Muito bem, muito pedagógico e reflexivo (não faz mal a ninguém, acho, pensar as coisas e até escrever sonhando e pensando!).
Venham mais.
Abr.,
An