Raro Dão

Raro é um nome de um vinho, mas poderá ser, no futuro, das palavras mais usadas durante o agoirento ano de 2011. Dinheiro Raro, Ideias Raras, Comportamentos Raros, Sonhos Raros. Logo Raro adequa-se, e bem, ao projecto de vida de um jovem casal que habita lá para o Dão. Estou a lembrar-me de outro, em Mouraz. Seriam, quem sabe, interessantes casos de estudo num mundo globalizante e comilão de diferenças. São jovens que caminham afastados da ribalta enófila, conhecidos apenas em cerceados núcleos de apreciadores, que a partir da terra vão dando existência a uma mão cheia de produtos minimalistas. Acreditam nas suas ideias. Coisa Rara.

Este ano, e durante a guerra que caiu sobre as margens do Mondego, bastas vinhas foram consumidas, apagadas, com enorme ferocidade, por uma orda cobarde de chamas sem face. Em pleno Agosto, o Aljão foi sendo devastado sem dó nem piedade. Parcelas enormes de videiras despareceram literalmente da vista. Ficaram, apenas, memórias.

Raro foi ver, passadas as hostilidades, a expressão saída da cara dos jovens. Revelava vontade de dobrar o tormento, limpando da lembrança aqueles dias negros. Para acalmar a raiva, nada mais que pegar num copo abastado com o melhor vinho da Casa deles.

Um Raro, da colheita de 2004. Um tinto da terra, um vinho que tenta exprimir a força de um povo, as convicções de quem tenta fazer bem, de forma desigual, independente e com recursos diminutos. Ainda há guerreiros lá para cima.

Post Scriptum: Vinho disponibilizado pelo Produtor.

Comentários

Emilio disse…
Caro Rui, as chamas sâo cobardes, mas os que começam os fogos sâo cobardes aínda muito mais.
Penso ser este um dos grandes dramas da nossa Ibéria e os seus dois países irmâos...