Se calhar o assunto já foi repicado, na enolândia, mas ainda assim não vou coibir-me de retornar a falar dele.
Um produtor tem o seu enólogo, que é homem simples, jovem e dedicado, cheio de ideais, pouco burguês. O sonho é fazer um vinho diferente, com o tal carácter, que marque o povo. Começa, paulatinamente, a ter sucesso com o trabalho que desenvolve. Ganha.
Ao lado, outro produtor pede a esse mesmo enólogo que dê uma mãozinha, que ajude a relançar os seus vinhos. O enólogo aceita o desafio. É sinal de reconhecimento, a que ninguém fica imune. O tempo caminha, o enólogo começa a ampliar a sua influência por diversos locais e lugares, por mais recônditos que possam ser. Faz vinhos aqui, além, mais além, no outro lado, perto, longe.
Ao lado, outro produtor pede a esse mesmo enólogo que dê uma mãozinha, que ajude a relançar os seus vinhos. O enólogo aceita o desafio. É sinal de reconhecimento, a que ninguém fica imune. O tempo caminha, o enólogo começa a ampliar a sua influência por diversos locais e lugares, por mais recônditos que possam ser. Faz vinhos aqui, além, mais além, no outro lado, perto, longe.
O enólogo, outrora desconhecido, agora famoso, julga-se o melhor, quase divindade enológica. Conseguirá, ainda assim, avistar o que anda a fazer? Empenhar-se-á mais num lugar, com determinado produtor, que noutro sítio e com outro patrão? Não andará a jogar contra si mesmo, como se estivesse só, num jogo de xadrez, rodando o tabuleiro, à medida que vai mudando de jogador? Quer ganhar ou quer empatar? Estará a lutar contra si mesmo? Terá produtores preferidos? Terá terroirs amados? Ou, apenas, se resume, e bem, a ganhar dinheiro? Coisa mais estranha, quase doentia.
Comentários
Como sempre, simples, directo, sem gorduras para mastigar! Parabéns!
Tenho a minha posição mais que publicada, picada e replicada, no entanto, não sou extremista e cada vez mais acho que é uma questão de equilíbrio e interpretação. Naturalmente haverá técnicos que conseguem fazer trabalho exímio em 10 produtores e outros que com 3 já patinam. Mesmo que ambos tenham igual capacidade técnica. No geral, na pele do produtor, apostaria numa exclusividade, enquanto enólogo, ambiciono como os outros, a rentabilização dos meus talentos.
É tudo uma questão de se saber avaliar e perceber os sinais de paragem! Penso eu!
Abraço!
O texto em si é mais uma reflexão pessoal do que propriamente uma crítica.
De qualquer modo, terá o enólogo, no seu intimo, preferências por produtores e por regiões? Como gere internamente esses sentimentos?
"Fará os vinhos" com o mesmo empenho? Estará a competir contra si mesmo? Coisa esquisita...
Abraço
Parabens desde já pela forma frontal como escreve (sem papas na lingua), faz falta escrever assim... Como enologo, de varios vinhos aqui provados, senti fundamentalmente a sua honestidade na sua prova. Mas acreditem que não sinto ter criado filhos e enteados, um enologo cria sempre um filho e não peçam para escolher de qual filho gosta mais.... É obvio que o sensato será sempre aproveitar o potencial unico de cada casta, de cada terroir, de cada produtor...Mas tirando sempre o maximo partido de cada vinho e nunca competindo entre eles...Cada vinho é um vinho. Mais uma vez parabens pelo seu trabalho.
Paulo Nunes