Xisto (Douro) 2005 vs Xisto (Douro) 2005

Exercício simples, proposto por um compincha de longa data. O mesmo vinho, proveniente de magnum, é servido, às cegas, a uma plateia de enófilos inveterados de duas maneiras distintas. Uma parte decantada, deixada a descansar durante uma hora, antes de ser servida. A outra metade aviada, também em decanter, mas sem tempo para sossegar.
Na primeira opção, surge um vinho amaciado, com fruta evidente, redondado. Com sugestões e toques a chocolate com leite. Fresco, limado na boca. Fácil.
Na segunda opção, aparece mais arisco, irrequieto, com mais aresta. Impressão a cera, forte. Fumo. Vegetal. Mais intenso, mais pujante e pujente. Musculado.

Um único vinho e duas faces díspares. Com uma vulgar decantação, mais ou menos prolongada, e temos a falsa sensação, ou não, que estão, ali, dois vinhos diferentes à nossa frente. Um simples acto e tudo se altera. Coisa gira, não é?
Para constar em memória futura, preferi, gostei mais do segundo modo  como se apresentou!

Comentários

Amigo, provei aqui no Brasil a safra 2003 as cegas...Achei um vinho intenso, com certo dulçor e taninos muito jovem, que me incomodou um pouco. Com certeza um vinho para guardar. Foi fazer um post sobre ele.

Parabéns pelo Blog!
Abs e saúde
Silvestre
www.vivendoavida.net
paulo bento disse…
Olá, Rui.

É na realidade um exercício muito giro, como aliás já te tinha dito.
Na nossa prova, e visto terem sido decantados com a mesma antecedência e não com tempos alternados, o que estabeleceu a diferença foi o facto de terem sido servidos em copos diferentes e a temperaturas diferentes.

No caso em questão, a brincadeira foi feita com um Barca Velha 1991, em versão magnum também.


E o mais engraçado é que num grupo de 10 provadores com alguma experiência, a grande maioria disse que "os dois vinhos" eram de anos diferentes e alguns até de regiões diferentes. E eu só não disse o mesmo , porque tinha preparado a prova com um comparsa enófilo; caso contrário teria alinhado, sem qualquer dúvida, pelo mesmo diapasão.

É na realidade um exercício curioso que só vem provar que o vinho é um ser vivo, mutante e complexo e que o acto de prova é e será, do ponto de vista sensorial, um acto subjectivo e, consequentemente,isolado.

E quanto a isto, "imho", não há volta a dar!

Grande abraço,
Paulo Bento
Pingus Vinicus disse…
Olá Paulo, é com enorme alegria que te vejo pelas minhas bandas.

Do teu belissímo post, retiro esta passagem "É na realidade um exercício curioso que só vem provar que o vinho é um ser vivo, mutante e complexo e que o acto de prova é e será, do ponto de vista sensorial, um acto subjectivo e, consequentemente,isolado", pois ela define muito bem o que é a análise de vinhos e ela está longe de ser uma tarefa objectiva, por muito que digam o contrário.

Um forte abraço
Rui