Não há dúvida que somos, todos, bichos carregados de manias, com tiques mais ou menos nervosos. Com uma velocidade quase anómala, sem qualquer justificação plausível e sem fundamentação, deixamos de gostar do que gostávamos, para, agora, passarmos a gostar de coisas que não sabemos, muito bem, o que são e como são. Apenas gostamos. Muito ao estilo das crianças e ou de jovens em período de puberdade.
Em tempos idos, não muito, idolatravam-se os vinhos alentejanos. Eram o novo mundo dentro do velho mundo. Era a modernidade, o fim dos defeitos, o começo de uma nova época, o arranque da dinastia dos vinhos desenhados com preceito, sem falhas, redondos, sem aresta.
Surge, entretanto, o Douro, com os seus vinhos de mesa opulentos, musculados, firmes e escuros. Agora sim, estávamos a par dos maiores do mundo. Não havia que ter medo, com o Mourinho nas adegas e o Cristiano Ronaldo engarrafado, podíamos jogar na liga dos grandes.
Pelo meio, nada de jeito. Dão, Bairrada, Verdes, Estremadura, Sado e restantes entretinham-se, por culpa própria, a lutar pelas sobras.
Pois bem, enfastiados, o povo conhecedor passou a falar de objectos diferentes. Cousas mais estranhas, segundo uns, cousas para intelectuais, segundo outros, esquecendo que algumas dessas cousas, salvo raras, muito raras excepções, comportam-se como puros alentejanos ou durienses.
Douro, Alentejo? Esqueçam isso, malta, que é cenário para imberbes. O que virá depois? Apostas?
Comentários
É verdade, mas como sabes, PT não é exclusivo. É sintoma de país produtor, seja ele bom ou mau. Quer lá saber um italiano do vinho espanhol ou um francês do vinho californiano...não somos excepção.
Mas a questão, Miguel, para mim, é que andamos atrás de ondas, sem saber muitas vezes o que queremos. Tu sabes? Sinto, que queremos dar o ar de diferentes, quando não o somos.
Quem tem, entre nós, arcaboiço para falar com conhecimento de causa de coisas fora do main stream? Será porque conhecemos um, vá lá dois vinhos daqui ou dali...?
Em abono da verdade, parece-me que nos iludimos com muita facilidade.
Nesta matéria, e independentemente do prazer que tenho pela enofilia, tento não desligar-me de toda a realidade, aliás nem podemos e nem se pode.
Aqui em França penso que o consumidor médio esta no mesmo patamar de conhecimento e intersse que o consumidor médio português.
Se falarmos de enofilos e em particular de quantidade de enofilos ai sim ja encontro uma grande diferença.
So a titulo de exemplo, se fores ao forum da RV, ao mesmo tempo que tu, ou estarão conectados um ou dois foristas ou ninguem. Enquanto que se for ao forum francês "La passion du vin", encontro la por vezes 100 pessoas conectadas em simultaneo.
Mesmo assim, aqui os enofilos tambem são uma minoria, so que somos muito mais do que ai.
Uma diferença nos enofilos é que aqui valorizam sobretudo o reflexo do terroir no vinho enquanto que ai poucos o fazem... Preferesse sobretudo barrica... Mas felizmente aos poucos isso estara a mudar.
Mesmo em produtores parece-me que falta ai cultura enofila...
Quando se são poucos, por muitos que sejam são sempre poucos. Quando se são mais, mesmo que sejam menos, fica a ideia que são muitos. Confuso?
PS: Imagino que o que esperavas ja aconteceu. Parabens!
2ª feira estarei em Gouveia para uns dias de descanso.