Coube, agora, à José Maria da Fonseca, a tarefa, quiçá custosa, de aturar um bando de i-enófilos, no seu reduto.
Não foi a primeira vez que deambulei por dentro das suas fronteiras. Tinha-o feito aqui, com o objectivo, apenas, de captar a riqueza da arquitectura, do património que está associado à produção de vinho.
É pena que grande parte dos enófilos não pare, nem que seja por breves instantes, para mirar para além do copo. Parece-me visão redutora, incultural. Existe, naturalmente, mais vida para além do vinho. Adiante.
Passeou-se, por entre os meandros da cerca, oscultando, observando, sentindo a carga histórica que habita por estes lados. Tudo explicado, tintim por tintim, com palavras ligeiras, francas e mundanas.
Concluída a etapa histórica, o enfoque da lição passou a ser, para o gáudio dos presentes, o líquido báquico.
Reveram-se as gamas Quinta de Camarate, nas versões branco doce 2010, branco seco 2010 e tinto 2008. Estão francos, apelativos, com toques de requinte que os tornam, nestes tempos que correm, produtos diferenciados. O tinto tem qualquer coisa de bordalês. Muito aconselhável. Testou-se, ainda, o Pasmados tinto 2008. Aqui a lógica é diferente. Mais urbano, mais abrangente, mais jovial. Nada contra.
Houve, ainda, um prelúdio para se falar, para se ouvir, sobre as diferenças entre o Verdelho e o Verdejo. Ambos, tenros, de 2011. E ali estavam lado a lado em fotos e em produto já vinificado, permitindo observar as divergências e eventuais parecenças. O primeiro bem mais tropical, o segundo mais amplo, mais vegetal, mais sénior.
Ultrapassada esta etapa, surgem defronte os Icones da JMF. Explicados e apresentados por Domingos Soares Franco, o povo presente teve a possibilidade de conhecer e explorar o FSF 2007, o Periquita Superyor 2008, o Domini Plus 2008, o J de José de Sousa 2009, este em regime de pré-apresentação pública. Por entre os diversos estilos, sensações, cheiros e sabores, cabe-me dizer que o FSF está um vinho cavalheiresco, revelando variadas nuances, sempre em timbre muito selecto. Apontamento de destaque, também, para o Domini Plus. Um vinho do Douro, meio desalinhado, atrevendo-me a classificá-lo de anacrónico. Carregado de vegetal maduro, de terra, de pedra. Um prazer inesperado.
Tempo houve, ainda, e ao som das palavras do chefe, para entender, um pouco mais, a Grand Noir trabalhada em lagar, inox e talha. A curiosidade recaiu sobre a versão talha. Puro tinto de fenícios, de gregos, de cartagineses, de romanos. Sabor terroso, argiloso. Seria disto que beberiam alguns homens na antiguidade?
Caminhava-se quase para o fim. Tempo para a lição de Moscatéis. As poucas dúvidas que restavam, surgem resolvidas. Existem efectivas diferenças entre Moscatéis Serranos e Moscatéis de Areia. Percorreu-se a Colecção Privada DSF, ora com Armagnac 1998, ora com Cognac 1999, ora com Roxo 2003.
Descansou-se um pouco, pensa-se na vida, com uns ligeiros goles de Roxo 20 anos. Terminou-se o capítulo com amostras de bastardinho de 2009 e 2011.
Antes do desfecho, do encerrar de portas, aconchegou-se o estômago e a cabeça com pequenos, mas perduráveis tragos de Bastardinho 30 anos e impressionante Moscatel de 1955.
Após tudo isto, as palavras soam a coisa inócua, ligeira e sem conteúdo. Cheers!
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