O Dão, a Bairrada, os Vinhos Velhos e a Diferença

Esta quadratura de palavras, nomes ou termos, transformou-se, quase que num ápice, no novo graal para pretensos enófilos enfastiados de vinhos desenhados segundo os preceitos da enólogia moderna. Cumpre-se, deste modo, a velha norma que espelha, e bem, a idiossincrasia do povo português. A verdade do passado é no presente inverdade. O que era abominado e categorizado como produto démodé, sem estilo, é por estes dias coqueluche, sinal de evolução, de amadurecimento, sendo fundamental para reconhecimento entre pares. O pretérito, portanto, passou novamente a contar.


Há, no entanto, dúvidas que tais alterações comportamentais tenham efectivas repercussões no mercado. O volume de vinhos vendidos, por exemplo, sob a chancela do Dão e da Bairrada progrediu favoravelmente? E para quem tenta oferecer algo diferente (conceito demasiado abastardado), sente os bolsos menos ocos?
Creio, e é mera fé pessoal, que tal vaga resume-se, apenas, a meia dúzia de fogachos, sem qualquer consistência ou conhecimento de causa, incapazes de sustentar uma nova vaga de consumo.  Voltará tudo à normalidade. E outras modas virão.

Comentários

Antonio Madeira disse…
O futuro é dificil de prever mas es capaz de ter acertado.

Lembra-me um pouco aquele slogan punk "No future!"
Pingus Vinicus disse…
António, como deves adivinhar, não é com alegria que digo.
Mas é com estranheza que constanto algumas opiniões favoráveis sobre algo que não conhecem.
Rita Bueno Maia disse…
Caro Pingus,

Não percebo por que razão em muitos textos, e o teu não é excepção, se parte do pressuposto que escrever sobre vinhos tem de ora coincidir ora reflectir ora ainda conduzir uma alargada percentagem de consumidores que inclua os mais e os menos informados.
Em todas as trocas que têm lugar num mercado, há grupos restritos que se juntam em redor de um tipo de produtos diferentes dos produtos que reúnem, no seu círculo, as "massas". Por que razão no mercado do vinho não pode acontecer a mesma coisa?
Inclusivamente, segundo a sociologia do século XX, o valor dos produtos "diferentes" e supostamente "descobertos" por aqueles grupos restritos advém do facto de não ser "um tipo de produto comercial". Não acho que se trate de uma idiossincrasia portuguesa; pelo contrário, acho que é um sinal de que o mercado de consumidores e pensadores de vinho em Portugal se está a complexificar.
Às vezes penso que os Baga Friends têm a convicção de que não querem chamar as massas. Pelo contrário, projectam uma subversão engraçadíssima. Imagine-se um tempo em que um Munda 2006 ou um Dores Simões Garrafeira 1995 estarão expostas em caves e museus, enquanto na mesa de todos os dias se abrem Ferreirinhas. Que Carnaval!
Pingus Vinicus disse…
Rita, com todo o respeito, não falava naturalmente sobre os meus textos :) pois eles são o que menos interessa para o caso, mas sim numa perspectiva global, e numa tentativa de interpretação/reflexão dos diversos movimentos ou tendências.
Anónimo disse…
Ãhhhhh????