Quer se queira ou não, teremos que admitir, de uma vez por todas, que existem vinhos impossíveis de serem descritos. Por isso, qualquer palavra que ultrapasse a fronteira da realidade, não terá sentido e será pior a emenda que o soneto.
Há muito tempo que não bebia este vinho (nem sei se alguma vez o bebi). De qualquer maneira, e independentemente do que bebi, provei ou não, agora, e sob a chancela Bacalhôa, direi que está abastardado, sem qualquer orientação e sem ponta que se pegue. Surge vulgar. Relembro que, no passado, era vinho com consideração, com respeito e com dignidade.
Numa prolongada noite de congeminação, onde se espiaram diversos fantasmas, medos e temores, em que se falou, de espada na mão, de tanta coisa, a goela foi sendo refrescada, amaciada por um Tinto da Ânfora, que foi capaz de calar a voz mais contestária. Foi vinho superior, grande, abastado de cheiros e sabores difíceis de falar. Tornou-se, meramente, num simbolo de apaziguamento. E assim fiquei calado durante o resto da noite. Para quê falar?
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