Tinha dito não há muito tempo, já tinha referido, que há actos ou coisas que me afastam de vinhos, que vedam o interesse, a paixão, que impossibilitam o querer, o ter. Não consigo e nem tento beber um vinho despido do factor emocional, do factor pessoal, de ter ou não ter algo que sustente essa vontade. A paixão é isso mesmo. Vive-se, sente-se e sofre-se por ela. Ou abandona-se, arruma-se a um canto. Sempre me fez, enorme confusão, o cuidado que se tem nas palavras que repetidamente se escrevem. Um cuidado que parece e deve ser regra, orientação, um modo de conduta. Uma conduta que despe o homem e torna-o vazio de conteúdo.
Tinha metido em tempos, e apenas, de relance os beiços no vinho. Tinha sido um acto fugaz, efémero, mas intenso. Foi o suficiente para o desejar, voltar a reencontrá-lo. A simplicidade estonteante, a ligeireza no perfume, a facilidade com que se estabelece uma relação entre nós e ele, o vinho, tornam todos os momentos em comum, lances de profundo prazer e desfrute.
De facto, e em jeito de súmula, de remate, apraz dizer que nem tudo que é complicado ou complexo, entrelaçado com coisas estranhas, presunçosamente requintadas, é o que mais gozo dá, que mais diverte, que nos fazem mais felizes.
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