Bolas, o tempo é tramado. Enquanto ia despejando para o copo e a garrafa ia esvaziando a um ritmo assinalável, dei comigo, já quase no fim, a olhar para um pormenor do rótulo: 20 anos. Ainda em perfeita lucidez, constatei que 20 anos já não é metade da vida que vivi.
A velocidade com que o tempo corre, coloca a nu a dureza do envelhecimento. Diz-nos, sem qualquer preparação, que a viagem há muito começou e que fatalmente irá descambar naquela fatídica estação terminal que tentamos evitar. Pelo meio, fazemos tudo e mais alguma coisa para atrasar aqui ou ali a chegada ao destino, ao coberto de falsa ilusão de que iremos conseguir sabe-se lá mais o quê.
Este 20 anos da Borges revelou uma complexidade que não estava à espera, com todos aqueles aromas e sabores que caracterizam os melhores. Fiquei, de facto, admirado. |
Depois, e ainda com o vinho pela frente, mas não tão lúcido, vejo que parte dos meus 20 anos foram vividos de forma incoerente, repleta de ziguezagues, com uma lista de falhanços que parece não ter fim. É a vida. A minha.
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