Por causa de Isabel Silvestre

Larguei quase tudo e parei para ouvir a Isabel Silvestre. Parei e escutei, porque gosto de a ver e de a ouvir. A sua voz, o seu aspecto, os ouros que usa fazem-me recordar tanta coisa. Saudosismo? Sim. Muito. Gosto de não perder o rasto. O meu rasto. 
Recordo toda uma juventude, uma infância que está, cada vez, mais longe. Faz trazer à memória coisas que jamais voltarão. Jamais voltarão as florestas. Jamais voltaram as ribeiras correr da mesma maneira. Nem os penedos, agora, parecem-me ser os mesmos. Tudo soa a perdido, a esfumaçado. 
Ouço a Isabel, perdoem-me o trato ligeiro, porque aqui e além, vai alimentando as minhas memórias mais longínquas. Imagino, ainda, que os meus amigos andam por lá, que ainda esperam por mim na estação de comboio. Que levam-me para a camioneta. 


Trago à memória, com a voz da Isabel, o que é saber de onde onde vimos, de onde vieram os meus pais. Vieram lá de cima, como se dizia nos idos anos setenta e oitenta. Éramos de lá de cima, orgulhosamente, mesmo que não fossemos de berço. Éramos e somos de sangue, de hábitos e costumes. 
Ouço a Isabel Silvestre para continuar a ouvir a água a correr por entre as pedras, olhar para a floresta, subir às montanhas, mudar o sotaque, ouvir o sino da igreja, mesmo que não fosse para ir à missa. Ouvir o Padre Leitão, perante os meus primos, dizer-me: Rui não te vejo há muito tempo

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