Em Setúbal, na Península de Setúbal ou em Palmela, é irrelevante para o caso a denominação, existe uma clara divisão entre o novo e moderno e a tradição, o clássico e a história. A clivagem entre estas duas visões é bastante clara nos vinhos da região.
A proliferação de vinhos pesados, doces e sem alma, parcos em frescura é cada vez maior e com uma falange de apoio cada vez mais significativa entre consumidores e produtores. Os números apontam, segundo consta, para isso.
Pessoalmente é com profunda apreensão e pesar que assisto, salvo raras excepções, ao delapidar dos velhos castelões, em que o AS de António Saramago (que combina o castelão com outras castas) e Horácio Simões Grande Reserva são perfeitos exemplos. Vinhos profundos e potentes, mas com carácter, com personalidade vincada que aguentam o correr do tempo de forma digna. Foram substituídos por vinhos normalizados, onde uma palete de castas migrantes fazem o deleite da multidão.
Nos vinhos brancos apostou-se na exuberância aromática, na linearidade de aromas e sabores. São fáceis, são imediatos, são, como nos tintos, normalizados. Raros são os casos em que podemos deslumbrar um vinho marcante, como o Hexagon e o Horácio Simões Vinhas Velhas Boal que conseguem ombrear com os melhores vinhos brancos deste país, capazes de marcar um momento.
É com enorme angústia que vejo uma porrada de moscatéis sem qualquer vivacidade, vindos principalmente das areias do Poceirão e Fernando Pó, sem a complexidade que um vinho desta estirpe deve ou devia ter. A falta de frescura é em alguns casos, se não na maior parte deles, aflitiva. Cansam ao fim de dois tragos, na melhor das hipóteses.
Salvam-se os confirmados José Maria da Fonseca, Bacalhôa, António Saramago e a Casa Agrícola Horácio Simões que parece apostar, de algum tempo a esta parte, na criação de um património que poderá dar origem, no futuro, a um conjunto de vinhos incontornáveis.
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