E como está o mundo do vinho, ao fim de quase quinze anos de observação dos seus meandros? Na verdade, não consigo deslumbrar alterações significativas, consistentes e capazes de aumentar a diversidade no que respeita à promoção e divulgação do vinho em Portugal. E o que existe não tem a necessária força, ainda, para provocar uma efectiva mudança nesta matéria. Não sei se alguma vez terá. Depois tudo nasce e morre no mesmo dia, com uma velocidade feroz. Surgem projectos ou presumíveis projectos que são tão efémeros que a nossa memória não gasta tempo para os recordar. Esfumaçam-se no meio da enorme lixeira virtual.
Muita coisa passou para plataformas de interacção social, mas na essência tudo parece continuar igual ou quase igual, com os mesmos velhos hábitos que subsistiam, antes do advento destas novas e messiânicas formas de comunicar. Fica a sensação que houve apenas um lifting mais ou menos profundo no visual. O estado das coisas é, portanto, de profunda e enraizada normalidade. Como em tudo em Portugal.
Comentários
Em 15 anos vende-se muito mais vinho engarrafado, criaram-se muito mais marcas, há muito mais produtores-engarrafadores, exporta-se muito mais e produz-se muito mais.
A questão é que a esmagadora maioria dos portugueses não consegue, de maneira alguma, mudar os seus hábitos de consumo. O aparecimento do euro veio fazer com que aquilo que as pessoas recebem ao final do mês valha menos do que valia. Deste modo, os best-sellers de há 15 anos continuam a ser os de hoje em dia. Eventualmente pode ter aparecido uma ou outra marca, mas o patamar de preço é o mesmo.
Vinhos acima dos € 5 não são para qualquer um. Esses terão que ir todos para exportação.
A título de exemplo, quem beba uma garrafa por dia de € 5, ao fim do mês, são € 150. Quem pode? Poucos, muito poucos.
E não vão ser as novas tecnologias que vão alterar isso.
PS-Recebo um número reduzido de amostra, sendo que o valor é quase desprezível.
O target dos blogs é exactamente o mesmo que o dos críticos de vinhos de jornais e revistas, um público exigente e mais esclarecido com capacidade de compra acima da média. Obviamente que para estes também se deve mostrar que há vinhos de 3€ que podem ser uma boa surpresa à mesa e é isso que os blogs também fazem. E que se note quando aqui falo de blogs, apenas me limito a um grupo restrito uma vez que a quase totalidade ou está parado ou simplesmente desistiu.
O que mais importa é divulgar as nossas experiências e que se deixe esse testemunho para todos aqueles que as quiserem lêr e daí tirar o seu proveito. Quem tem a obrigação de vender os vinhos são os produtores e os seus agentes de comunicação, os blogs são apenas um canal de informação que perdura no tempo, porque jornais leva-os o vento.