Um simples pedido aos que ainda passam aqui pelo pasquim. Mas antes uma pequena introdução. Não há muito tempo passou-me pela frente este vinho. Provado às cegas, essencialmente para serem observadas as reacções faciais dos diversos elementos presentes.
Posso adiantar-vos que tive alguma dificuldade em enquadrar o estilo do vinho, o que seria, o que teria ali no copo. Na verdade, já lá vão bem longe os tempos em que largava bitaites sobre este ou aquele vinho, como se fosse um connaisseur. Ainda assim, só a título de curiosidade, posso garantir que não foi uma experiência desinteressante.
Mas adiante no assunto. Uma dos pormenores que salta à vista é termos um rótulo que não diz Porto, mas sim Port e em que o nome Fonseca se apresenta com 's no final. Depois mais abaixo reparamos que este vinho terá sido engarrafado por uma qualquer empresa para o mercado nórdico. É visível a palavra Stockholm. Urge perguntar: o que temos aqui, de facto? Qual a história deste vinho? Trata-se mesmo de um vintage Fonseca ou apenas é uma apropriação (indevida) do nome? Ou ainda pior uma pequena mistela? Esclarecimentos são necessários.
Comentários
Antes de mais desejo que a experiência de prova deste vinho tenha sido boa; está de facto em face de um notável vintage da Fonseca.
A garrafa em questão é de um autêntico vinho do Porto vintage da Fonseca de 1960; nesta altura não era proibido expedir vinho a granel, antes essa era a tradição sobretudo para as casas não portuguesas. O vinho do Porto era expedido em pipa e engarrafado nos mercados de destino. Só após 1970 passou a ser obrigatório comercializar o vinho do Porto engarrafado no entreposto de Vila Nova de Gaia
Nos anos 60 e 70 grande parte dos vinhos vendidos para a Suécia eram exportados a granel e engarrafados por Vin- & Spritcentralen nas suas instalações em Estocolmo. Até ser proibido o seu engarrafamento no estrangeiro, o vinho do Porto Vintage também era engarrafado – com toda a legitimidade - pelo monopólio.
Este vinho foi engarrafado por AB Vin- & Spritcentralen (conhecida a partir de 1989 por V&S), a empresa estatal sueca que detinha o monopólio da importação e venda por grosso de bebidas alcoólicas em território sueco.
Quando a Suécia acedeu à União Europeia em 1995, a empresa perdeu o estatuto de monopólio. Em 2008, a V&S, foi vendida pelo estado sueco à Pernod Ricard. É mais conhecida hoje como a empresa que desenvolveu o Absolut, uma das mais importantes marcas de vodka do mundo. Hoje, na Suécia, não há monopólio de importação. No entanto, o estado mantém o monopólio da venda a retalho de bebidas alcoólicas que são vendidas exclusivamente através da rede de lojas pertencente a outra empresa estatal, a Systembolaget.
Depois de perder o monopólio, a V&S decidiu vender grande parte do seu stock de vinho do Porto Vintage no mercado internacional. A venda deste vinho, conservado em excelentes condições nas instalações da V&S e vendido a preços muito interessantes, suscitou grande interesse por parte do comércio de vinhos raros e coleccionadores. Por este motivo, aparecem de vez em quando, um pouco por todo o mundo, garrafas de vinho do Porto Vintage com indicação da V&S como engarrafadora, tal como esta que apresenta.
Quanto ao rótulo, nos anos 60 a designação usada na rotulagem dos vinhos do Porto vintage era de facto FONSECA’S. A utilização da palavra PORT em vez de PORTO explica-se pelo facto das garrafas se destinarem, na altura, a ser vendidas na Suécia onde a designação inglesa era mais conhecida.
Espero que todas as questões tenham sido respondidas, contudo se alguma dúvida subsistir agradeço o contacto.
Neste link envio mais alguma informação sobre este Fonseca Vintage 1960 que espero tenha proporcionado momentos inesquecíveis.