Dizem que gostam de vinhos finos mas ...

Por entre os diversos episódios relatados por Dirk Niepoort na Revista de Vinhos - A Essência do Vinho, e que são conhecidos, saltou à vista uma passagem (que ninguém pegou), sobre a eventual mudança de perfil dos vinhos do Douro, no particular, mas que podemos extrapolar para outras regiões e que transcrevo. "(...)Tal como o Priorat, o Douro estava a seguir um caminho errado, com vinhos muito pesados e extraídos, a prometer ao mundo que iam envelhecer. Dez anos depois começamos a ver que não é assim, que talvez fosse melhor vinhos mais finos, mais precisos, menos alcoólicos, com mais acidez e menos madeira. Vejam o Alvaro Palacios. Fazia vinhos monumentais, que nunca gostei muito. Mudou o perfil e agora está a fazer vinhos fantásticos. Mas teve a coragem de mudar! O mundo está a mudar. Hoje, um grande vinho tem que ser um vinho equilibrado, fino, que envelheça bem."

Imagem retirada da RV - A Essência do Vinho
Depois Dirk sobre o assunto avança com a seguinte tirada, por causa de alguma incompreensão que sente em relação aos seus vinhos (dedução minha): "(...) Acho que os jornalistas estão muito enganados. Vão muito pelo grande vinho, não tanto pelo que dá gozo beber. Dizem que gostam de vinhos finos mas atribuem as pontuações mais elevadas aos vinhos pesados e alcoólicos. Há uma fantochada muito grande. Mas é o que é, é normal." Para quem serão os barretes?

Imagem retirada da RV - A Essência do Vinho
Tendo a crer, sem ter os dados todos, que o autor poderá ter uma certa razão. Na verdade, existe uma enorme distância entre o que são as novas correntes, o que se pede, o que se deseja aparentemente e aquilo que acontece efectivamente na realidade. Por vezes, acho, que no final das contas, os vinhos que continuam a dar mais nas vistas são aqueles que usam da força e da exuberância para nos chamar a atenção. Vinhos que foram feitos para correr a alta velocidade em pequenas distâncias. Não mais que isso.

Comentários

Caro Pingus,
Eu concordo com o Dirk, de quem, aliás, gosto muito dos vinhos (ainda que não goste de seus preços, pelo menos no Brasil...). Também gosto do Poeira, que prioriza a clareza e o frescor em detrimento à concentração. Semanas atrás bebi um Meandro 2013 que também mostrava ótimo frescor e mineralidade, coisa que muito aprecio em um vinho. Será uma tendência dos durienses? Se assim for, fico feliz.
Abraços,
Flavio
Pingas no Copo disse…
OLá Flávio, tenho algumas dúvidas que todos os durienses estejam de facto a mudar de perfil, bem como a maior parte dos vinhos portugueses. Existe sim, um núcleo de produtores (cada vez maior) que está a apostar mais na frescura e no equilíbrio. Ainda bem, porque se torna chato estar a beber aquelas bombas que cansam ao fim de um ou dois copos.
Curiosamente sobre o Meandro não tenho essa opinião, mas também assumo que não o bebo há muito tempo e nem sequer é das minhas escolhas principais.
Um grande abraço
Unknown disse…
Saudações,
É muito interessante ver este tipo de declarações, ultimamente repetidas por vários quadrantes no Douro, que se está a criar um "aparentemente" novo estilo de vinhos do Douro. Convém no entanto não esquecer que este foi precisamente o estilo que sempre pautou os vinhos da Casa Ferreirinha, começando com Barca Velha em 1952 e que segue atualmente sendo a "regra de ouro" para todos os vinhos desta casa.
Obrigado,
Filipe Neves
Pingas no Copo disse…
É verdade Filipe Neves, contudo acho (e vale o que vale) que na Casa Ferreirinha temos assistido a alguma derivação, nos últimos tempos.
Abraço e Obrigado.