Não é para ler...

Por vezes, gostaria que fossem mais, sou tratado como um príncipe. A espaços, tenho a fortuna de me aconchegarem a alma e o corpo com verdadeira comida. Com aquela comida que nos faz relembrar de onde viemos, quem somos e do que somos feitos. São momentos íntimos, de profunda introspecção. Não têm anda a ver com aquelas cenas bem decoradas, vagas de sentimentos, cheias de nada, onde os gajos mais bonitos, afilhados de uns poucos, se entretém a registar e a mostrar ao povo, que os vê de boca aberta. Nada a ver.


Sentar numa prosaica mesa, onde no meio está um tacho atascado com comida com uma feiura que nos apaixona, mais uns bocados de pão num cesto de vime, forrado por uma renda, e uma garrafa de vinho, leva-nos para lugares e estados que existiram, em tempos. É a glorificação da inocência. 


A um ritmo lento, vamos enchendo o corpo, vamos sarando as feridas que teimam a abrir, de tempos a tempos. Fica-se reconfortado. Espreita-se, volta na volta, lá para fora. Se chover e fizer frio, melhor ainda. Ficamos seguros que estamos no nosso lugar.


Naquele lugar que nos protege e afasta daquela sujidade que nos conspurca, que nos agonia. Levantamos-nos da mesa, apenas, quando o tal tacho estiver rapado e a tal garrafa estiver sem pingo. E com pança cheia. São, simplesmente, coisas para se viverem e não para ler. Não dão glória e nem fama. 

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