Uma pequena história ...

Vou contar-vos uma pequena história. Muitos de nós, os armados em especialistas de vão de escadas, já se esqueceram do que bebíamos no passado e que gostávamos bastante. Na verdade, escondemos esses tempos. Somos, agora, todos bebedores de vinhos frescos, elegantes, finos e tão complexos que só nós os entendemos. Depois atiramos pedras a quem não pensa assim, como nós. 


No sábado passado, dia da defenestração, pequei num vinho, apenas por uma razão. Metade do meu código genético é orgulhosamente do Douro Superior. E o nome do vinho apelava a esse registo. Creio até que as uvas ou as vinhas que dão origem ao vinho, são (ou eram) daquela parte do Douro. Mas adiante. E preço à parte, paguei por ele catorze euros e tal, as expectativas eram nenhumas. 


Posso dizer-vos, sem qualquer vergonha ou medo, que fiquei francamente surpreendido. Corpo, intensidade, equilibro, sabor, frescura e secura. E com uma boa dose de elegância. Tudo bem esgalhado e bem mexido. E para quem ainda se lembra, fez-me recordar ipsis verbis o saudoso Castelo D'Alba Vinhas Velhas 2003, quando era um vinho sério e às direitas. Feito (não sei se ainda o é) com uvas de vinhas muito velhas de Freixo de Espada à Cinta. Não sei se foi resultado de uma memória, cada vez mais caduca e degradada, mas este Terras do Grifo soube-me pela vida. E isto é que importa.

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