As iscas

As iscas, como vulgarmente chamamos ao bifes de fígado de porco ou de vaca, são daquelas coisas que se gosta ou se odeia. Demorei a gostar delas. Demorei anos a apreciá-las. Nem nos tempos em que a minha mãe era a dona do tacho e da panela, fui um grande apreciador.
Resultado da progressão da idade, dou comigo a atribuir um valor enorme a umas boas iscas. Quase a bater os cinquenta anos, digo-vos que é uns dos meus pratos de antologia, do momento.



Apesar da sua aparente simplicidade, há muita coisa que pode decidir se preferimos desta ou daquela maneira. Mas uma coisa é certa. A isca não pode estar muito cozinhada. Tem que ficar bem rosada por dentro. Isto é inegociável. Sem a rosácea interna, torna-se em algo seco, desinteressante, meio aborrachado.
Precisam de alho. Muito e bem picado. Depois limão ou vinagre ou vinho branco ou tinto. Louro. E pouco mais. Talvez um pouco de pimenta branca. Prefiro, as iscas, para além do alho e louro, com umas gotas de vinagre balsâmico e vinho branco. Ficam pujantes e levemente adocicadas.



Têm, as iscas, que estar sempre aparelhadas com uma boa cebolada, indispensável para mim, batatas cozidas e umas belas couves, também cozidas. Mas daquelas que têm talos que se podem comer. O vinho? Sempre com um rosé daqueles mais potentes, com uma valente acidez. Com corpo.

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