Obrigado!

É com pena, ainda, após tantos anos nestas coisas de andar nos copos, que sejam poucos aqueles que se libertaram dos axiomas tradicionais, no que respeita ao assunto do vinho. São quase nenhuns os que se borrifaram para tudo e para todos. Que usaram o coração, o lado mais intimista, mais pessoal. É guerra perdida, por mim. Ganha por eles. 
Há vinhos marcantes, por isto ou por aquilo. As razões são múltiplas. Ainda me lembro da importância que os vinhos da Quinta dos Roques tiveram para a região do Dão. Nos anos noventa ainda eram um desvio à norma, no que respeita à qualidade. A par da Quinta dos Carvalhais, da Quinta da Pellada, afirmo, sem qualquer pejo, era um dos motores da modernização da região que, na altura, padecia de fortes maleitas. Eram poucos os vinhos que ombreavam com o que de melhor se estava a fazer, naquela altura, no resto do país. As colheitas de noventa e seis e noventa e sete foram marcantes, tornando-se icónicas, no que respeita aos vinhos da Quinta dos Roques. Para os mais fanáticos, quem  não se lembra da saudosa colecção amarela numerada? Com diversos varietais e reserva. Tintos. 


Tal como na vida, o mundo dos vinhos trouxe-me alegrias e tristezas. Amizades e desamizades. Ilusões e desilusões. Aproximações e afastamentos. Liberdade e censura. Confiança e desconfiança. Enganos e arrependimentos. Ainda assim, após tantos anos, é possível ser surpreendido.  
Num daqueles momentos, cada vez mais esporádicos, que vou tendo, fui presenteado, sem razão, por uma garrafa de vinho da Quinta dos Roques. Fui brindado, por alguém que já não via há anos. Creio, até, que nunca me tinha sentado à mesa com ele. Mas sabia da minha fixação pelo Dão. É obra. Obrigado Luis.


Sobre o vinho, que ilustra a coisa do dia, será escusado tecer grandes enunciados. Ainda em grande forma. Complexo, estruturado, fresco, brilhantemente elegante. Mas o que importa para a homilia, o que é relevante é/foi ter recebido o que recebi, sem ter dado nada em troca.

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