No outro dia, fiz mais um, entre
tantos, exercício de memória. Sobre a memória, há quem diga que passamos a vida
a inventar. Que na verdade, as coisas não eram bem assim.
Fui procurando, passo a passo,
por sensações de coisas que a minha mãe fazia. Pelo que era hábito comer, aqui
na mouraria e lá em cima. Coisas de fim-de-semana. Cá em baixo, na mouraria,
servia para manter alimentada a raiz, a tradição. De onde tínhamos vindo. A
minha mãe era uma indefectível amante de lá de cima. Nunca esquecerei as suas
palavras ao dobrar o Mondego, para a margem norte. Já cá estamos.
Fui metendo na panela, fui
misturando, fui acrescentando. Fui puxando pelo que ainda me lembrava. Fui e
fui até onde conseguia ir. Fui ao limite das minhas habilidades, das minhas
capacidades. Usei o que tinha e mesmo amputado de muita coisa, senti que, pelo menos
aqui, não falhei muito. Na próxima, tenho a convicção que farei bem melhor, na
certeza, porém, de que nunca será igual. Nunca será brilhante. Ou melhor, nunca
será o verdadeiro.
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