Quinta do Valdoeiro Touriga Nacional 2003

Um vinho das Caves Messias. Feito de exclusivamente de Touriga Nacional e estagiado em meias pipas de carvalho. Com 14, 5% de graduação alcoólica. Um produtor que mostra querer fazer coisas diferentes e modernas (não sei muito bem o que isto quer dizer). Tenho tido o contacto com vinhos interessantes, que valem a pena serem bebidos. Este exemplar, mais o Syrah do mesmo ano, representa o ressurgimento de uma marca fazendo adivinhar um futuro promissor.
A cor com que se mostrou ao mundo era opaca. Impressionante. Escura, escurinha, escuríssima. Negra, negrinha, negríssima. Mais preto, não há...
Aroma com perfil exuberante, muito intenso. Quase impossível de não gostar. Cativa, pois oferece muito. Fruta silvestre. Muitas amoras, mirtilos e muitas ginjas. Depois terra molhada, musgo. Neste momento parei e pensei muito no cheiro da terra quando acaba de chover, num dia quente de Verão. Estão a sentir? Muita bergamota, cogumelos.
Puxando pela minha cabecinha e pondo a imaginação a trabalhar consegui descortinar qualquer coisa parecida a resina envolvida por balsâmicos, cedros e tinta. Lado químico muito presente. Chocolate preto amargo, bem intenso, com tabaco, folhas de tabaco, charuto. Ninguém fica indiferente a uma apresentação destas? Eu não sou excepção.
Na boca entra calmo, mas lá dentro estoira. Preenche todas as cavidades, de uma forma algo repentina. Mastiga-se. Só o vinho era capaz de ser uma refeição, o que acabou por se tornar num problema. Podia ter sido mais calmo na sua apresentação e na forma como se comportava. Parecia uma daquelas pessoas que falam muito, cativam no início, mas depois cansam um pouco, tornando-se chatas. A acidez, pareceu-me colocada de forma a proporcionar boa frescura, ajudando a atenuar toda a pujança do vinho. Final longo, com ardor, deixando um rasgo de fruta e tabaco.
O vinho está bem feito. Está! Impressiona? Impressiona. Passa despercebido? Não. Só que durante a minha prosaica refeição, ele acabou por me maçar, sobrepondo-se à comida. E ela não era assim tão ligeira. Continuando na minha dissertação, que está a transformar-se numa tese, olhei para ele e pensei muito nos vinhos do novo mundo. Será?
Se tivesse mais um pouco de elegância, se tivesse sido mais discreto, mais sóbrio.
Nota Pessoal: 16, porque antes da refeição cativa, mas durante cansa...para guardar e ver no que dá! Um momento muito inconclusido. Peço desculpa, pelo registo mais estranho que fiz e provavelmente um dos mais confusos.

Comentários

Anónimo disse…
Belo registo Rui, conseguiste fazer uma dissertação aromátia enorme.
Pingas no Copo disse…
Se calhar até enome demais! Por este caminho.
Karen disse…
Meu marido adorou seu blog! Nós dois gostamos muito de vinho, infelizmente, aqui no Brasil, uma garrafa de vinho importado custa entre 2 a 3 vezes mais do que no pais de origem. Tomei a liberdade de colocá-lo entre os links do meu blog.
Pingas no Copo disse…
Cara Karen, muito obrigado pelas suas palavras.
Pelo que tenho lido e ouvido, vejo que aí no Brasil os vinhos são vendidos a preços elevadíssimos.
Razões?
Karen disse…
Taxas altas + lucro do importador. Se você pensar muito no preço, fica abstêmio. rsss
Caro Rui

Mais uma excelente nota de prova, que bem escreves, e tanto eu me revejo nestas tuas notas.

Não deve ter sido por acaso que a RV distinguiu este blog com o seguinte comentário:

"Muitos e interessantes comentários"

Bravo Rui e continua nesta linha, posso dizer-te que já fazes parte da minha consulta quando quero colocar vinhos na carta da YH

Um abraço

Zé Tomaz
Pingas no Copo disse…
Caro Zé Tomaz obrigado, mais uma vez, pelas tuas palavras.

Acima de tudo, quero transmitir tudo o que senti quando bebo um vinho.

As minhas palavras tentam mostrar a paixão que tenho quando estou de volta do líquido de Baco.

Sem paixão, sem emoções, sem dizermos aquilo que sentimos a vida fica chata.

Um abraço
Rui Miguel