Novamente no Algarve (com Barranco Longo)

Não é a primeira vez que provo vinhos da Quinta do Barranco Longo. Na altura, lembro-me ter dito que estava perante vinho que veio da praia (o que me valeu por parte de um anónimo ofendido a menção de "papa rótulos"). É sabido que a região do Algarve não é propriamente conhecida pelo vinho. São outras as atracções que levam muitos portugueses até lá. Não o vinho.

Rui Virgínia "Descobriu que o Algarve é uma espécie de palavra mágica, e que aliada a um vinho de qualidade, pode levar o produto muito longe, lá fora. O produtor, Rui Virgínia, diz que se trata de ter uma filosofia de vinhos. Na Universidade de Évora diz ter sido colega dos melhores enólogos do país. E eles, sempre que vinham ao Algarve, perguntavam-lhe porque não produzia na região vinhos com qualidade. Acabou por aceitar o desafio.
Dos 60 hectares de exploração que disponíveis, 12 estão ocupados com vinha moderna. O projecto já
tem 8 anos. Os primeiros vinhos saíram em 2004 com data de 2003. Foram vendidas 9 mil garrafas de rosé e tintos.
A convite do ICEP, os vinhos do Barranco Longo estiveram presentes no Wine Show London, um dos maiores certames da capital britânica dedicados ao consumidor de vinhos. E foi aí mesmo que o estreante monocasta Touriga Nacional 2004 conseguiu ser seleccionado pelo conceituado crítico de vinhos britânico Oz Clarke, para integrar uma prova temática que se repetiu em dois dias de feira."
Aliás, foi esse Touriga Nacional que provei.
"Projectos não faltam. Rui Virgínia quer rentabilizar a sua exploração agrícola dotando-a de estruturas com qualidade para proporcionar visitas à vinha e prova de vinhos. A ideia é ter também no Barranco Longo um restaurante, sala de provas, um show room, loja com produtos artesanais, e as tais visitas guiadas, não só pela vinha como pelos citrinos.
Um homem que acredita no potencial algarvio enquanto produtor de vinhos de qualidade, apela aos produtores que adoptem novas imagens, que optem pela diferenciação do produto."
Informações e foto retiradas deste local.
Bom, a ver vamos. Parece que este projecto é (quase) uma ilha numa região, onde a pressão urbanística, o betão, o alcatrão, não param de aumentar. É brutal a coacção que o nosso litoral sofre (de norte a sul). Choca-me, entristece-me observar, reparar na elevada densidade de construções, no aumento quase exponencial de prédios, de urbanizações, centros comerciais. Todo o espaço é aproveitado ao milímetro para cimentar, tapar. O verde, a natureza é algo que não interessa, que não vale nada. Toca a destruir. O interior arde, adoece, envelhece e morre. O litoral betaniza-se (esta palavra existe?) e enche-se de migrantes à procura do sonho. Dizem que é a evolução, o progresso. Devo ser muito antiquado. Falemos sobre os vinhos, que merecem ser falados.

Um rosé 2006, interessante. Um rosado, com alguma estrutura, que consegue não cair em excessos doces, açucarados. Presentes as habituais notas de morango, hortelã, rebuçado. Curiosa impressão a folha de tomate. Num registo sadio. Boca gulosa, frutada, onde pareceu-me sentir um saudável equilíbrio entre a frescura e o açúcar. Nota Pessoal: 14

O Reserva 2004, um tinto muito floral, pleno de frescura, onde pontifica, por todo lado, a fruta viçosa, no ponto ideal para consumo. Bastas sugestões de grão de café, cacau em pó, rebuçados. Aliás, lembrei-me muito dos cheiros que saltavam daquelas pequenas confeitarias de rua, onde se moía o grão de café no momento, os rebuçados eram vendidos avulso, as folhas de chá escolhidas pelo cliente. Original, sem dúvida. Nunca caiu na monotonia. Na boca, comportamento muito elegante, equilibrado, onde os sabores se sentem, se podem desfrutar livremente. Um vinho algarvio que poderá envergonhar nomes bem mais famosos. Este tinto vai directamente para a minha garrafeira. Nota Pessoal: 16,5

Um produtor que merece ser conhecido e bem conhecido. Arrisquem.

Comentários

Admito que seja uma das lacunas que tenho, a falta de prova dos vinhos Algarvios.
Mas não é fácil encontrar e quando encontro e vou provar por vezes os resultados não sao os melhores.
NOG disse…
Amigo Rui,

Como sabes esse Reserva Barranco Longo também foi dos meus predilectos. E importa que se saiba: a prova foi cega!

abraços,

N.
Então se fosse a descoberto o vinho deixava de ser bom ? Ou temos complexos pelo vinho ser Algarvio... ai ai
Anónimo disse…
Acredito que o nome Algarve possa criar muitos preconceitos. É natural!
Transparente disse…
Agora fiquei com curiosidade acerca do vinho. Realmente é verdade, a marca Algarve (ou Allgarve) não cativa muito. Será esta marca a locomotiva da região?
Paulo Pacheco disse…
gostei da "folha de tomate".
Estamos cheios de adjectivos, não?

;)

Abraço
NOG disse…
João Pedro,

Era preciso destacar que a prova foi cega, pois no passado - como salientou o Rui no post - este vinho deu polémica. Então, o amigo Rui foi apelidado de "Papa Rótulos" e nesse aspecto... ai ai.

N.
Pingas no Copo disse…
Caros amigos, o Barranco Longo é, de facto, uma pedrada no Algarve. Os vinhos estão bem feitos, são muito apelativos. Pessoalmente gostei muito. Aliás, o rosé é para mim uma excelente opção (bom, acabei de encontra outra, autêntico caso sério).

PS- Paulo Pacheco, nem imaginas a dificuldade que começo a ter em escolher adjectivos. A imaginação começa a falhar. Abraço para ti.
João Barbosa disse…
É bom saber que há gente a querer fazer bom vinho no ALLgarve. Este desconheço, mas vai já para a interminável lista. Abraço
Anónimo disse…
Pingus Vinicus disse:"Curiosa impressão a folha de tomate".
Um "Rosé Macho", com estrutura. Este rosé despertou-me a atenção.
Ass. Vinica.
Anónimo disse…
realmente o vinho faz frente a muitos........ ja saboreei a reserva de 2006 k estava bastante boa....... mas muitos enologos dixem que esta ultima esta para a arrazar, ja pra n falar no rose um dos melhores no mercado