Garrida. Touriga Nacional de 2004

Surgem, quase sempre, os mesmos nomes quando procuro um vinho que satisfaça, que revele uma interessante capacidade de envelhecimento, constância nas várias colheitas (neste caso, ainda não são muitas), gastando pouco dinheiro. Entre eles está um que, sem grandes alaridos, povoa a minha garrafeira com bastos exemplares. O preço pedido não é agressivo. Enquadra-se no patamar que considero ideal para o consumidor que pretende qualidade a bom preço (15€). É escolhido, inúmeras vezes, para estar numa mesa, onde outros convivas não comunguem da minha loucura pela pinga. Eles e eu ficamos contentes (por motivos diferentes). O seu comportamento é quase sempre consensual.

O Touriga Nacional de 2004, da Quinta Garrida, está ainda jovem. Austero. Foi despontando com o auxílio de sugestões aromáticas muito próximas do verniz e do cipreste. Amoras e groselhas, bem combinadas entre elas, libertaram-se posteriormente da prisão do vidro. Propiciavam a imagem de um trilho com silvas, rodeado de mato rasteiro, onde o chão pisado tinha tez escura e cheiro húmido. Pequenas sensações florais (não garanto que fossem violetas) surgiram aleatoriamente. Em alguns troços da prova, a caruma, as cascas das árvores emergiam com abundância. Com o aproximar do final, os cheiros do café, do cacau, da baunilha apareceram.
O paladar era balsâmico e silvestre. Quando ele se encaminhava para outros lados o café e a baunilha surgiam envoltos em fumo. Fresco, com os taninos a darem a ideia que temos vinho para evoluir.
Um Dão moderno, sem qualquer tipo de arestas, impossível de virar as costas. Apesar da face ser urbana, notei, desta vez, mais finura, mais equilíbrio, mais complexidade que este Touriga Nacional. Não farta tanto, não enjoa tanto e não aborrece tanto. Mexe-se mais. E valerá a pena guardar. Nota Pessoal: 16,5

Post Scriptum: Tive a sorte de provar um gole de uma cuba repleta com Touriga Nacional de 2007.

Comentários

Anónimo disse…
Tenho uma 2003 cá em casa a repousar. Comprei na feira dos vinhos do Jumbo por cerca de 10€. Devo-a abrir lá para meados de 2008, se não for antes... Abraço.
NOG disse…
O 2003 está, de facto, muito bom!

N.
Luis Prata disse…
Este vinho não engana. É um dos melhores TN que já provei. Com um perfil aproximado mas um pouco mais de finesse, gosto também muito do Borges TN.
Anónimo disse…
Anda por aí a circular um suplemento gourmet pertencente à revista Visão, na qual um senhor "crítico de vinhos José António Salvador", faz umas quantas provas de uns Tourigas. Deu 4 estrelas, pontuando com um muito bom, este Qinta da Garrida 2003. Até aqui nada de novo, mas ao virar da página deparo-me com um mero "vulgar", e apenas 2 estrelas ao Quinta das Estrémuas T.N. 2004. Fiquei aqui um tanto ao quanto espantado, visto que alguns dias atrás, o amigo Pingas tinha estado a elogiar de bom grado esta marca. Eu fiquei tão bem impressionado, mais uma vez, com o post, que fui logo comprar uma garrafa. Por caso acabei por comprar a 2003, que pela unanimidade está uns furos abaixo. Mas vulgarizar assim tanto o 2004, é que eu não estava à espera. Vamos lá entender estes críticos da "press"...
Amigo Pingas, grande abráço, e desculpa se me alonguei.
Pingas no Copo disse…
Pedro, sobre o Estrémuas TN 2004, ainda ontem estava com uns amigos numa prova cega (que falarei assim que tiver tempo) e um deles dizia-me que tinha lhe tinham dado a provar um vinho do Dão, no EVS, e que tinha gostado muito. Ele dizia-me "acho que se chamava "Éstremuas e era Touriga Nacional 2004". Perguntava-me depois:"Conheces?"

Agora, pessoalmente, entre o Éstremuas e o Garrida, a minha esolha tende para o segundo. Tem mais finesse, está mais equilibrado e não usa tanto da força para se mostrar. No entanto, o Éstremuas é tudo menos vulgar.

Um abração
VinhoDaCasa disse…
Pingus, ainda há bem pouco tempo molhei o bico num Garrida TN 2001 e o sacana ainda estava vivinho da silva.

Este vinho, e quase todos das Caves Aliança, são excelentes RQP e sobretudos vinhos bastante gastrónomos... Lembro do Baceladas, do Quatro Ventos... :)

Abraço
As Caves Aliança tem algo que destaca os seus vinhos, o belo trabalho que fazem com as madeiras é de salientar.
Toda a finesse, quase a cremosidade que todos os vinhos apresentam é de um trabalho de grande nível com as madeiras, talvez seja causado pela escola francesa... mas que primam todos pelo mesmo equilíbrio isso é verdade.
Pingas no Copo disse…
"As Caves Aliança tem algo que destaca os seus vinhos, o belo trabalho que fazem com as madeiras é de salientar."

Concordo.