Durante sete anos esta pandilha encontrou-se, todos os meses e às escondidas, em vários locais da Capital do Extinto Império (actualmente assentamos praça na Commenda). Este ajuntamento de críticos vorazes tem várias causas em comum: Necessidade imperiosa de esvaziar as garrafeiras pessoais, conhecer outros vinhos e colocar um ponto final na solidão que teimava em cercar-nos.
Este grupo de prova, baptizado como Núcleo Duro, merece que seja conhecido (Duarte Calvão fez, no passado, uma breve reportagem no Diário Notícias).
Ao fim destes anos, muito vinho passou pelas goelas e muitas palavras foram trocadas. Desde a sua fundação que provamos o melhor e o pior. Os temas foram vários: castas, regiões, anos, verticais, nacionais, internacionais. Convidámos produtores. Já lá vão mais de 45 provas cegas, sem contar as outras. Será, digo eu, a par do Puros e Vinhos, o grupo de enófilos que há mais tempo se senta à mesa para deglutir e dizer mal.
Agradeço publicamente a pachorra que tiveram para ensinar, para explicar, para perdoar as minhas alervidades. Ainda o fazem. Sempre ouvi mais, sempre falei menos. Durante muito tempo fui o mais novo. O status foi alterado com a incorporação de outro membro. Somos sete elementos fixos e um móvel (o convidado).
Feita a introdução, falemos do vinho. O arranjo foi da responsabilidade da única mulher na mesa. Só ela sabia o que iria cair para dentro do copo. Os outros ficaram com a tarefa de malhar, ou não, naquilo que estava ali à frente.
Em pormenor espalho no écran as habituais palavras que uso para encher os meus comentários sobre vinhos. Arranjo para aqui ou retoque para ali, adjectivo a mais ou adjectivo a menos, a coisa ficou assim:
Monte dos Cabaços 2001. Discreto e educado na pose. Sem esmagamentos e amaciado. Figos secos salpicados pelo açúcar em pó. Um leve balsâmico barrado pela tosta (de intensidade média) deu-lhe mais garra e aumentou-lhe a frescura. Sabor vivo, mexido. Fino no porte. Boa evolução. Nota Pessoal: 16
Monte dos Cabaços 2002. Comportamento parecido, na forma e no conteúdo, à colheita 2001. Revelou subtileza. Fruta sedosa. Limpo na boca, mas com estrutura mais débil, mais periclitante. Ainda assim deu prazer. Nota Pessoal: 15
Monte dos Cabaços 2003. Muda de registo. O cheiro a pão tostado, a fermento e a cereais, era intenso. Provavelmente estranho. Não sei. Com passas, com compotas. Terroso. Menos subtil, menos fresco. Na boca portou-se de forma seca. Talvez em excesso. Com tanino agudo. Nota Pessoal: 14,5
Monte dos Cabaços 2004. Muito vegetal, quase herbáceo. Faltava-lhe polimento. Demasiado apimentado. Álcool com rédea solta. Entrava na boca com força, sem modos. Desvairado. Nota Pessoal: 13,5
Monte dos Cabaços Reserva 2004. Um aglomerado de chocolate, de café e fumados. Diria que a madeira era boa, muito gulosa. Fruto maduro, talvez de cor preta. Manta morta. Moderno e urbano. O sabor insistia nas mesmas sensações. Fumo, café e chocolate. Soube bem, mas o peso da madeira podia, e devia, ser mais leve. Nota Pessoal: 15,5
.Com 2007. Tenho vergonha de dizer que fiquei estupefacto com a perfomance dele. É um vinho baratinho. Sem pedigree. Coisas de Prova Cega. Fruta fresca e viva. Flores e mentol. O vegetal reforçou a agradabilidade do dito. Bebeu-se e bebeu-se sem dar conta disso. Paladar envolvente, com a fruta e as flores bem misturadas. O final era surpreendentemente longo.
Com o rótulo à vista não teria a coragem para dar a mesma nota. Nem de longe, nem de perto. Nota Pessoal: 16
Encerrámos a festa com o Monte dos Cabaços Branco 2007. Aromas lácteos, bem envolvidos com a fruta e algum herbáceo. Saboroso. Honesto e cumpridor. Nota Pessoal: 14,5
A noite acabou com diversas teorias da conspiração típicas do nosso país. Os argumentos tinham sentido, mas careciam de sustento.
Post Scriptum: Primeiro prato: um filete de pregado com batata. Gostei. Segundo prato: Pintada recheada. Algo doce e pesada. Sobremesa: Frutas, queijos e bolo de chocolate.
Ao fim destes anos, muito vinho passou pelas goelas e muitas palavras foram trocadas. Desde a sua fundação que provamos o melhor e o pior. Os temas foram vários: castas, regiões, anos, verticais, nacionais, internacionais. Convidámos produtores. Já lá vão mais de 45 provas cegas, sem contar as outras. Será, digo eu, a par do Puros e Vinhos, o grupo de enófilos que há mais tempo se senta à mesa para deglutir e dizer mal.
Agradeço publicamente a pachorra que tiveram para ensinar, para explicar, para perdoar as minhas alervidades. Ainda o fazem. Sempre ouvi mais, sempre falei menos. Durante muito tempo fui o mais novo. O status foi alterado com a incorporação de outro membro. Somos sete elementos fixos e um móvel (o convidado).
Feita a introdução, falemos do vinho. O arranjo foi da responsabilidade da única mulher na mesa. Só ela sabia o que iria cair para dentro do copo. Os outros ficaram com a tarefa de malhar, ou não, naquilo que estava ali à frente.
Em pormenor espalho no écran as habituais palavras que uso para encher os meus comentários sobre vinhos. Arranjo para aqui ou retoque para ali, adjectivo a mais ou adjectivo a menos, a coisa ficou assim:
Monte dos Cabaços 2001. Discreto e educado na pose. Sem esmagamentos e amaciado. Figos secos salpicados pelo açúcar em pó. Um leve balsâmico barrado pela tosta (de intensidade média) deu-lhe mais garra e aumentou-lhe a frescura. Sabor vivo, mexido. Fino no porte. Boa evolução. Nota Pessoal: 16
Monte dos Cabaços 2002. Comportamento parecido, na forma e no conteúdo, à colheita 2001. Revelou subtileza. Fruta sedosa. Limpo na boca, mas com estrutura mais débil, mais periclitante. Ainda assim deu prazer. Nota Pessoal: 15
Monte dos Cabaços 2003. Muda de registo. O cheiro a pão tostado, a fermento e a cereais, era intenso. Provavelmente estranho. Não sei. Com passas, com compotas. Terroso. Menos subtil, menos fresco. Na boca portou-se de forma seca. Talvez em excesso. Com tanino agudo. Nota Pessoal: 14,5
Monte dos Cabaços 2004. Muito vegetal, quase herbáceo. Faltava-lhe polimento. Demasiado apimentado. Álcool com rédea solta. Entrava na boca com força, sem modos. Desvairado. Nota Pessoal: 13,5
Monte dos Cabaços Reserva 2004. Um aglomerado de chocolate, de café e fumados. Diria que a madeira era boa, muito gulosa. Fruto maduro, talvez de cor preta. Manta morta. Moderno e urbano. O sabor insistia nas mesmas sensações. Fumo, café e chocolate. Soube bem, mas o peso da madeira podia, e devia, ser mais leve. Nota Pessoal: 15,5
.Com 2007. Tenho vergonha de dizer que fiquei estupefacto com a perfomance dele. É um vinho baratinho. Sem pedigree. Coisas de Prova Cega. Fruta fresca e viva. Flores e mentol. O vegetal reforçou a agradabilidade do dito. Bebeu-se e bebeu-se sem dar conta disso. Paladar envolvente, com a fruta e as flores bem misturadas. O final era surpreendentemente longo.
Com o rótulo à vista não teria a coragem para dar a mesma nota. Nem de longe, nem de perto. Nota Pessoal: 16
Encerrámos a festa com o Monte dos Cabaços Branco 2007. Aromas lácteos, bem envolvidos com a fruta e algum herbáceo. Saboroso. Honesto e cumpridor. Nota Pessoal: 14,5
A noite acabou com diversas teorias da conspiração típicas do nosso país. Os argumentos tinham sentido, mas careciam de sustento.
Post Scriptum: Primeiro prato: um filete de pregado com batata. Gostei. Segundo prato: Pintada recheada. Algo doce e pesada. Sobremesa: Frutas, queijos e bolo de chocolate.
Comentários
Um abraço e continua a dizer mal, sempre que aches necessário,a comer e a beber vinho até que o figado te permita...
Um abraço
O fígado, esse, anda a dar sinais.
Um abraço
Abraço
a foto do perfil está 5*
São os amadores que levam "isto" para a frente...
Continuem !
Grande ab.
NOG
1 Abraço
Um abraço
Quando o prazer é grande, a amizade é genuína, a paciência é duradoura...parece que o tempo passa mais devagar...
Posso talvez afirmar por todos, que o entusiasmo se mantém igual depois das tais 45 provas.
Agora o que gostava de enaltecer é que isto tudo começou por causa do Vinho e da Enófilia. Sem isso, não nos teríamos conhecido. Não me teria junto com o "Pingão" maldizente deste Blog, não teríamos repescado 2 excelentes amigos da génese dos 5às8, nem teríamos agregado a dupla alma das Coisas do Arco do Vinho.
Não começamos por nos juntar debaixo de nenhum arco, nem nenhuma arcada, mas sim num espaço onde nos sentíamos como em casa...numa Barriga de Anjo.
Como ainda não estávamos completos, fomos ao Deserto da Margem Sul buscar um Nómada da Enófilia. Somos agora 7.
Há quem diga que é o número perfeito, pouco importa para quem gosta de estar com outros amigos "amantes" do vinho.
Provavelmente passamos a ser um Núcleo Duro Plus, como um amigo nosso disse um dia. Isso só nos trouxe mais valia.
Pela minha parte gosto mais de dizer bem, do que mal.
Por isso bem hajam, todos vós, membros deste Núcleo Duro e já agora de todos os outros núcleos por este País fora.
Ao Vinho!!
É a primeira vez que por aqui apareço, mas perante o que aqui dizes não podia deixar de o fazer, como é possível já terem passado 7 anos?
Sinto-me uma sortuda de pertencer a este grupo.Tudo isto só é possível quando a amizade é verdadeira e a pancada pelo vinho é única e a mesma.
O entusiasmo é grande e a malta diverte-se muito.
Quanto a ti continua a escrever como até aqui, é um prazer ler as tuas crónicas de escárnio e mal dizer, eu sei que o nosso amigo Fisiopraxis não concorda muito, pois gosta mais de dizer bem, mas concerteza há espaço para as duas situações.
Isto foi só uma gracinha não te habitues.
Quanto aos outros membros do grupo um grande bem hajam.
Até breve
O Fisiopraxis, como sabes, é um homem de bem. Não gosta de falar mal de ninguém.
Apenas quis dizer que muitas vezes falamos bem e muito bem, de bastantes vinhos, nestas tertúlias enófilas.
Por vezes falamos pior das avaliações uns dos outros, do que dos próprios vinhos...Que o diga o último convidado, Paulo Bento...
Ao Pingus, longa vida ao copo e à pena!