Este texto vai entrar para o lote daqueles que mais dificuldades me deram a escrever. Pensei, matutei, por diversas vezes, como desenrolar o fio à meada. Ocorreram-me dúvidas e tive muitas hesitações na forma e no conteúdo que o dito devia ter. Esta indecisão, deve-se em parte aos comentários que proferi nesta altura, juntamente com a breve e superficial reflexão que tive mais tarde.
Não é todos os dias que acontece, pelo menos comigo, beber vinhos que enchem as capas das revistas da especialidade, como se fossem estrelas de cinema. Degustados e literalmente bebidos, num ambiente descontraído e muito familiar. Nada de provas cegas, apontamentos longos, onde tudo é escalpelizado ao pormenor. É aqui que está o âmago da questão. A(s) minha(s) dúvida(s).
Os nomes que ostentam, metem respeito e podem condicionar qualquer um de nós. No meu caso, influênciam-me positivamente. Admito. Cada vez que olhava para eles, não conseguia parar de pensar em voz alta: "Extraordinários!" ; "Isto sim, são vinhos" ; " Brilhantes!" .
De repente, e no meio de todo aquele pensamento, meio sem sentido, pensei: "E se fossem provados, sem saber quem são, de onde vinham, seria capaz de lhes conceder as mesmas qualidades?". Provavelmente não. Não tenho qualquer preconceito em afirmar isto. Por diversas vezes fui apanhado. A paixão que eu tenho pelo vinho ultrapassa qualquer lapso ou incongruência da minha parte. Ainda são muitos os erros que cometo. Momentaneamente voltava aos vinhos e esquecia-me destes quase inúteis momentos de reflexão enófila. As ilações que ia tirando eram pouco sustentadas, contraditórias, confusas (tal como este texto).
"Caramba, são bons! Sabem bem. Equilibrados, perfumados, elegantes, muito complexos. Estão bem delineados. Com tudo no lugar. Aromas?" Não valia a pena pensar neles. Quase perfeitos. Médias? Classificações? Nem uma. Podia cair no ridículo de fazer asneira. Não me consegui separar, esquecer dos nomes que estavam ali, mesmo à minha frente. Condicionado? Claro.
Com Redoma Branco Reserva 2003 (Niepoort), Charme 2004 (Niepoort), e um Moscatel Roxo 20 anos (JMF), que devia fazer? Desfrutar, nem que sejam os rótulos. Que me dizem?
Para enquadrar o momento, os referidos vinhos tiveram o seguinte acompanhamento: Para o Redoma Reserva branco, uma sopa de peixe, aromatizada com poejo, do meu quintal. O Charme dialogou com um coelhinho assado no forno, levemente banhado em lima, laranja e hortelã, batatas gratinadas e miscelânea de cogumelos com vinagre balsâmico. O Moscatel dançou com uns frutos silvestres, gelado de baunilha e Apfelstrudel.
Comentários
saudações
Apenas recorro à prova cega quando quero fazer alguma comparação entre vinhos, por exemplo varietais de Touriga Nacional, etc.
Não tenho qualquer problema e até gosto de provar in your face, não é pelo rótulo ser bonito ou pelo nome que lá tem, que me vai dizer que nota eu vou ter que dar no final, e se tiver que ser baixa que o seja... é o que eu chamo de imparcialidade e frontalidade.
Faz-me confusão a prova ter de ser cega para alguns, não será que revela falta de confiança ou medo de se ser influenciado ?
percebo perfeitamente o que o Pingus quer dizer com este post. Para mim o vinho não é só o nectar que se prova mas também toda a história que o envolve, rodeia... E por isso penso que posso ser influenciado por esta ou aquela marca, rótulo, produtor. Agora isto também funciona no sentido oposto. A expectativa que se cria por certo rótulo pode fazer com que se espere imenso de um vinho e depois não se note essa tal diferença. Aqui também sei que as minhas limitações em termos de conhecimento e experiência de prova podem ajudar a que este resultado seja demasiado positivo ou demasiado negativo.
Isto para mim é uma das belezas do mundo do vinho. Dá origem a conversa, cavaqueira e belos momenos de discussão.
último comentário, quem me dera ter esses companheiros vínicos num almoço lá por casa..
Bas provas!
Além do bom gosto em vinhos,
você tem poejo no seu quintal?
Subiu mais uns degraus no meu conceito este Pingas no Copo.
Abraço
Eduardo
N.